domingo, 27 de janeiro de 2013

Chaves Maziotti, um cacique de Sintra

Uma das figuras mais em evidência no Colares do fim do século XIX foi António Chaves Mazziotti. Mazzotti nasceu em Colares, Sintra em 21 de Fevereiro de 1843 e faleceu em Lisboa a 10 de Maio de 1912, filho do comendador António Mazziotti Júnior e de Maria do Carmo Zeferino de Azambuja .Chaves Mazziotti seguiu as pisadas do pai - atingiu a posição de maior contribuinte do concelho de Sintra - e foi uma personalidade destacada na vida social local. Participou na fundação do antigo Jornal de Cintra (1885), primeiro periódico da era moderna da imprensa sintrense, era sócio da Sociedade União Sintrense, membro da Misericórdia local e um dos fundadores dos Bombeiros de Colares. Foi o maior entusiasta do nascimento da Praia das Maçãs, integrando a comissão que desde 1884 lançou a construção da estrada do Banzão à nova localidade e presidindo à «Sociedade Edificadora» constituída para o progresso da Praia das Maçãs. Pertenceu à Real Associação Central da Agricultura Portuguesa (17.5.1869 a 10.4.1877) e faz parte da direcção desta associação em 1872. Possuía várias comendas nacionais e estrangeiras, o título de fidalgo-cavaleiro da Casa Real (5.2.1877) e foi agraciado com a carta de Conselho em 1910. 
Casou com Heloísa de Almeida e Albuquerque, filha de Luís de Almeida e Albuquerque, fundador do Jornal do Comércio e director da Escola Politécnica. Entrou na política aos 16 anos, filiando-se no Partido Histórico (20.1.1860), e foi depois figura proeminente do Partido Progressista. Detinha o n.º 3 na lista de filiados de Lisboa, logo a seguir a José Luciano de Castro e a D. Miguel Pereira Coutinho e pagava a mais avultada quota (mil réis mensais), além de se afirmar como o maior influente político no concelho de Sintra. Durante 17 anos pertenceu à Junta Geral do Distrito de Lisboa  e, em representação da Câmara dos Deputados e do Governo, substituíu Wenceslau de Lima (alta figura regeneradora que chegaria a primeiro-ministro) como vogal e secretá-rio da Junta de Crédito Público. 
Foi pela primeira vez candidato a deputado em 1878, apresentando-se no círculo uninominal de Sintra, mas foi derrotado por Francisco Joaquim da Costa e Silva, que anteriormente já vencera seu pai. Em 1879 voltaram a defrontar-se, mas desta vez a vitória coube a Chaves Mazziotti que veio novamente a representar o círculo de Sintra em resultado das eleições de 1887, 1889, 1897, 1899 e 1900 Em 1886 chegou ao Parlamento como deputado por Beja, vencendo uma eleição suplementar. A partir de 1901 e até à última eleição monárquica, em 1910 (exceptuando a de Abril de 1906), com a inclusão de Sintra no círculo plurinominal de Lisboa ocidental  (lei eleitoral de 1901), passou a ser eleito nesta circunscrição (juramento  a 18.3.1902, 4.10.1904, 10.4.1905, 2.10.1906 e 2.5.1908, respectivamente).
Na Câmara dos Deputados participou em diversas comissões, pertencendo à Comissão de Agricultura em nove sessões legislativas. Quanto às intervenções no plenário foram em grande medida centradas nos problemas do seu círculo eleitoral: cobrança de impostos, caminho de ferro, organização da justiça, financiamento da construção de repartições públicas, questão da filoxera, crise vinícola, acção do administrador do concelho, criação de escolas, conservação e construção de novas estradas, apoio à instalação e exploração da iluminação eléctrica, etc. No plano da política geral destaque para propostas e projectos de lei sobre sociedades anónimas a inserir no Código Comercial (20.2.1888); de alteração de um artigo do Código Administrativo (23.5.1888); de manutenção do círculo eleitoral de Sintra sem agregação do concelho de Cascais, zona onde detinha reduzida influência política (4.7.1899); de fornecimento pelo Estado do bronze necessário à construção da estátua a Afonso de Albuquerque (7.6.1899); de proibição do uso de margarinas ou outras substâncias no fabrico de manteiga (27.5.1903) e sobre a fiscalização da denominação de origem dos vinhos (29.1.1907).
Chaves Mazziotti não produziu nenhum discurso de fundo, não discutiu qualquer das grandes questões políticas no parlamento nem foi relator de qualquer parecer de comissão. Manifestamente não possuía dotes oratórios, limitava-se a curtas intervenções e a pequenos textos de fundamentação dos seus projectos de lei. Como momentos altos na sua carreira de deputado poderão destacar-se 1899, quando efectuou o maior número de intervenções no hemiciclo; a sessão de 8.3.1901, quando quebrou a sua proverbial solicitude e interrompeu o primeiro-ministro Hintze Ribeiro, contradizendo a explicação sobre um conflito entre polícias e estudantes na Escola Politécnica, e a sessão de 29.1.1904 quando se manifestou contra um emergente sinal do progresso técnico ao defender o fim dos «passeios de automóveis pelas ruas da cidade de Lisboa» porque «ninguém se utiliza de um automóvel para fazer compras ou visitas». 
Depois do 5 de Outubro manteve-se fiel ao ideal monárquico, mas afastou-se da política. Frequentava os cafés, como o Baltresqui e a Havaneza do Chiado, onde passava horas em amena cavaqueira e tendo por vezes ditos espirituosos que faziam época, um estilo que nunca patenteou enquanto deputado.Sua filha Maria do Carmo casou com o conhecido cientista Carlos França.
A QUINTA MAZZIOTTI
A casa onde morou é um dos ex-libris de Colares, conhecido como Quinta Mazziotti-França, e teve as suas origens em 1588,quando Filipe II concedeu a um músico da sua corte, António Roiz de Arouche, os direitos sobre as águas da Serra de Sintra. Das primeiras edificações então realizadas, nada chegou até nós, desconhecendo-se, por completo, quais as infra-estruturas patrocinadas por Arouche. O conjunto habitacional que hoje se pode contemplar- então chamado Quinta da Porta ou dos Fieis de Deus- data do século XVIII e foi originado a partir da venda da propriedade por Manuel Francisco de Arouche, em 1758. O novo dono, Bento Pereira Chaves, era cavaleiro da Ordem de Cristo, criado de D. José, fundidor da Casa da Moeda e, mais importante pela ligação à propriedade, sargento-mor de Colares, o que explica a opção por este espaço para sua residência.A partir desta data, foi objecto de uma ampla reforma arquitectónica, continuada posteriormente por seus filhos, José Dias Pereira Chaves e Sebastião Dias Pereira Chaves, este último afilhado do Marquês de Pombal.Em 1830, Maria do Carmo, filha única de Sebastião Chaves, casou com António Mazziotti, diplomata italiano de serviço no nosso país, e pai de António Chaves Mazziotti, passando a quinta a ter o seu nome. Até que depois de alguns destaques, foi adquirida por João Francisco Justino, antigo presidente da Câmara de Sintra. Mas foi António Maria Dias Pereira Chaves Mazziotti o membro da família que mais marcou a vida de Colares, a par de figuras como Alberto Tota, Brandão de Vasconcelos, Arlete Reis ou José Inácio da Costa, pelo seu papel de filantropo e político.

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