terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A Fonte Velha de S.Pedro

UM ARTIGO DE DANIELA COLAÇO


José Alfredo da Costa Azevedo (1907-1991) - entre outras ocupações, foi um investigador e historiógrafo que se debruçou sobre variados temas relacionados com Sintra, a sua História, o seu Património e as suas gentes. Amava esta terra onde nasceu, e a ela devoto, empenhou-se com afinco em diversas causas pela defesa do seu património histórico, cultural, arquitectónico e natural.

Já me foi dito que se nota que sou uma admiradora de José Alfredo, por tê-lo mencionado já várias vezes no meu blogue. A verdade é que sim, sem ter chegado a conhecer pessoalmente esta grande personalidade sintrense, tenho vindo recentemente a descobrir o legado de crónicas, reportagens e artigos que deixou publicado, ao longo de cerca de sessenta anos, no Jornal de Sintra, e que posteriormente a Câmara Municipal de Sintra publicou, numa compilação em sete volumes denominada “Velharias de Sintra”, e sinto-me completamente fascinada pela obra, trabalho de pesquisa e dedicação deste senhor. E acho que me identifico com muitas das suas características biográficas, por isso lhe tenho tanta simpatia e respeito.

José Alfredo costumava terminar um capítulo de estudos sintrenses afirmando que reconhecia não ter feito um trabalho perfeito (não há aqui falsas modéstias) e fazendo votos para que tivesse despertado noutros o interesse e desejo de fazerem melhor - “Seria para mim um grande prazer”, conclui. Ora, longe de mim pensar “fazer melhor” do que a obra de José Alfredo, não é isso a que me proponho. No entanto, muitas das suas descrições foram redigidas ainda eu não tinha nascido e à data do seu falecimento, apenas contava oito anos de vida. A minha curiosidade e motivação estão, sim, em seguir as marcas dos passos que deu – uma nova ronda pelo passado, algumas décadas depois.

Sou de Sintra, mas pertenço ao Mundo, pelo que não tenho estado tão presente (fisicamente) como gostaria. Desta última vez em que estive em Sintra (inícios de Maio), aproveitei para visitar alguns lugares de que José Alfredo fala nos seus livros.

Um dele, situa-se em São Pedro de Sintra, e a descrição que se segue (do autor) incitou-me a lá ir: «(...) este recanto tão poético e silencioso onde, no Verão, gozando a frescura que ele nos oferece, podemos passar umas horas agradáveis, lendo as páginas de um bom livro e bebendo, de quando em vez, umas goladas de água fresquíssima que a fonte nos oferece. Tenho a certeza de que muitos sintrenses não conhecem este pitoresco cantinho da nossa terra.» José Alfredo refere-se à Fonte Velha de São Pedro, a fonte mais antiga do bairro de São Pedro de Sintra, anterior a 1823. Sigo as indicações dadas e chego a um local com uma fonte, na calçada da rua do Rio da Bica. A imagem apresentada no livro (desenho também de José Alfredo, datado de 1921, em baixo) não corresponde totalmente ao que tenho à minha frente, mas a mina mencionada no texto está lá e o candeeiro sobre o muro de pedra é idêntico ao da gravura (tirando, obviamente, o pormenor de ter sido vandalizado...). Também o “denso arvoredo (que) empresta ao local uma frescura que é de aproveitar em dias de canícula” faz-se notar.
 
No entanto, penso que já não lhe seria tão agradável como outrora passar aqui umas horas – o local tem, de certa forma, um aspecto desolado, um amontoado de pedras construído e reconstruído, um candeeiro partido, sons de tráfego rodoviário e máquinas de construção que nos chegam não de muito longe... A água na fonte ainda corre, a insígnia CM bem marcada, mas sem uma data...duvido, por vezes, se será a mesma fonte...
                                                                              



Confirmam-se efectivamente as minhas suspeitas, não se trata da mesma fonte a que se refere José Alfredo como a “ fonte mais antiga do bairro de São Pedro de Sintra”. Algumas imprecisões dos mapas que utilizei induziram-me em erro. As imagens acima são da fonte da Rua do Rio da Bica. Por outro lado, a fonte antiga de São Pedro situa-se não muito longe desta,no final do Caminho da Fonte de São Pedro, paralelo à Rua Visconde Faro e Oliveira, e num gaveto circundado pela Quinta de São Pedro. Seguem, então, abaixo, duas fotografias da verdadeira Fonte Velha de São Pedro. Infelizmente, são também imagens que me deixam, de certa forma, decepcionada, agora já não tanto pelos habituais actos de vandalismo que se verificam por muitos sítios e monumentos do país, mas sobretudo pelo evidente desleixo das entidades responsáveis pela recuperação e preservação de locais de interesse histórico e arquitectónico. É triste comparar as imagens (antigas e recentes) e comprovar a degradação e o ar de abandono deste outrora recanto de inspiração poética...
                                                     




Convido, os que nisso tiverem interesse, a contribuir com alguma informação adicional acerca das eventuais modificações nesta fonte, após os anos 20 do séc. XX e até à data actual. E termino dizendo que nunca é demais lamentar os actos de vandalismo que se verificam constantemente e em todo o lado. Nunca irei entender qual a satisfação que se tem ao quebrar e destruir coisas sem qualquer razão, ódio, ou interesse para isso...


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