Visando
debater de forma aberta e plural a temática da defesa da floresta e da
protecção do coberto vegetal em Sintra, nas suas várias vertentes e
prismas, promoveu a Alagamares no dia 28 de Abril passado um debate na
Sociedade União Sintrense, para o qual convidou técnicos, entidades e
ambientalistas, com vista a salientar as boas e más práticas e ajudar a
apontar soluções, numa óptica de participação positiva que a todos, como
“jardineiros” deste território hoje património da humanidade, está
cometido. Vídeo em
http://www.youtube.com/watch?v=tiIRTi474C0
Iniciou
o debate o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, o “pai” da Reserva
Agrícola e da Reserva Ecológica e um dos principais rostos da política
de ambiente das últimas décadas em Portugal. Enfatizando o papel da
árvore no jogo entre o colectivo e o convívio, Ribeiro Telles lembrou
ser a eco indispensável ao desenvolvimento, ironizando ter sido por a
ter descurado “sido o homem expulso do paraíso”. Vivemos na era do Caos, prosseguiu, o que dificultou a potencialidade da fixação.
Segundo ele, são os países que garantem a biodiversidade os que mais
têm potencialidade de segurança, tendo sido a compartimentação dos
espaços agrícolas o que permitiu o desenvolvimento da civilização
actual.
Garantir
um contínuo verde através das cidades deverá ser um mandamento do
planeamento, enfatizou, na luta contra o Caos e distribuição
especulativa do território.”Continuamos no tempo da mancha e não do desenho do paraíso”, rematou, referindo-se à visão fragmentada que os instrumentos de gestão territorial fazem de realidades amplas e interligadas.
Eugénio
Sequeira, da Liga da Protecção da Natureza, detendo-se no tema da
árvore em espaço urbano, refutou o entendimento de que se possam fazer
podas em árvores decorativas como as feitas em árvores de fruto,
vincando a necessidade de manter as árvores na medida do possível. “Para quê cortar a totalidade quando só 20% estão doentes?” questionou.
Tem de se fazer mais para salvar as árvores, e nesse processo a
auscultação das pessoas é fundamental, bem como trazer as populações
para a gestão das zonas verdes.
Nuno
Oliveira, em representação da Parques de Sintra-Monte da Lua, que gere
550 hectares de território dentro da Área de Paisagem Cultural
classificada como Património Mundial, caracterizou a serra de Sintra
como zona de eucaliptos, pinheiro bravo e espécies invasoras, e
salientou o facto de não terem havido intervenções na mata
recentemente, embora a PSML esteja atenta à invasão das lenhosas para
as quais preconiza abates especiais, sendo essa uma tarefa a longo
prazo, bem como a arborização de áreas intervencionadas (60 hectares
mais, até ao fim de 2012). Referiu também terem sido georeferenciadas
18.000 árvores na zona da PSML e mais de 35.000 árvores dentro do Parque
da Pena, estando em curso a classificação e medição desse vasto
património arbóreo. Quanto às podas, distinguiu as efectuadas na área da
PSML, tendo sobretudo em vista a segurança dos visitantes, que
critérios de alinhamento ou segurança, típica das intervenções em zona
urbana. Os abates ocorridos têm sido precedidos de relatórios
fitossanitários com base numa avaliação técnica consciente.
O
director do Departamento de Ambiente da Câmara de Sintra, Carlos
Albuquerque enfatizou ter nos últimos anos aumentado a participação dos
cidadãos em torno destes temas, bem como ter vindo a reduzir o número de
reclamações junto da autarquia. Anunciou a edição de uma brochura
“´´Árvore Morta, Árvore Posta”, na qual de forma pedagógica se pretende
explicar o que vai acontecer após o abate de árvores. Concordou com a
necessidade de um contínuo natural, propugnando que a próxima revisão do
PDM consagre esse contínuo na vertente norte-sul, sob pena de o Parque
de Sintra-Cascais ficar cortado ao meio. Reiterou uma melhoria nos
procedimentos municipais, ao publicitar e divulgar os relatórios
previamente às intervenções, numa melhoria na relação com os munícipes
em comparação com procedimentos anteriores.
O representante do ICOMOS regozijou-se pela realização desta iniciativa e referiu que “espécie invasora, a bem dizer, é o Homem” e informou que esse organismo vai fazer a monitorização das áreas classificadas como Património Mundial.
O
representante da Sociedade Portuguesa de Alergologia, Rui Brandão, da
Universidade de Évora, procurou desfazer alguns mitos em torno das
árvores como fonte de alergias. Segundo ele, não há relação directa
entre a exposição a agentes polínicos e as alergias respiratórias, sendo
as espécies mais problemáticas a oliveira e a criptoméria japónica.
Igualmente não serão os polens os responsáveis pelas atopias
respiratórias ou manifestações alérgicas, nem as irritações podem ser
tidas como alergias. São as coníferas quem mais produz o pólen, mas o
pólen é pobre em proteínas e para haver reacções alérgicas terá de se
verificar a existência dessa proteínas, explicou.
Aberto
o debate, usaram da palavra diversos participantes. André Beja,
salientou a degradação da floresta e a falta de vigilância, bem como o
facto de as podas não serem correctamente executadas. Deplorou não haver
presentemente jardineiros em número suficiente ou viveiros da
autarquia, que atribuiu à política de outsourcing praticada,
constatando que dos abates de árvores recentemente ocorridos em Sintra,
só alguns considera justificados, sendo que menos de metade das árvores
foram repostas. Pedro Macieira criticou os cortes selvagens com recurso à
técnica de rolagem e João Pereira chamou a atenção para outras zonas do
concelho, como o Cacém, onde a arborização é secundária.
Depois
de Bruno Quinhones questionar o tipo de espécies e sementes usadas nas
novas sementeiras, Adriana Jones, da ADPS, fez uma intervenção
condenando a extinção do Conselho Municipal de Ambiente e a paralisia do
Conselho Consultivo do Parque Natural Sintra-Cascais, bem como a falta
do Plano Verde, já elaborado em 2005. Outros intervenientes abordaram
casos pontuais de abates e podas na Correnteza e em Monte Santos (Luísa
Morais) o destino das madeiras ou seu abandono nas bermas (Esmeralda
Luís) os cortes no Largo do Morais (Jorge Menezes) ou a prática de
desportos radicais na serra(José Manuel Laranjo). Uma participante
questionou mesmo se a nova brochura anunciada pelo director de Ambiente
da CMS foi precedida de consulta ou auscultação pública.
Os
participantes responderam às questões, dirigidas sobretudo aos
representantes da PSML e da Câmara Municipal, tendo sido informado ir a
Parques de Sintra plantar 50.000 novas árvores, e serem as sementes
usadas inteiramente certificadas, até por imposição de directivas
europeias, no âmbito dos concursos de aquisição. Tanto o representante
da PSML como o da CMS apelaram a mais acções de voluntariado, sobretudo
no arranque das acácias, reiterando Carlos Albuquerque ser de
incrementar uma cultura de contacto com os munícipes.
Postas
mais de 3 horas de profícuo debate e troca de informações, entende a
Alagamares ter sido dado um contributo para essa cultura de contacto, em
que se troquem informações, ouçam os parceiros da sociedade civil,
desmistifiquem falsas verdades e se chamem as populações a contribuir na
preservação do território do qual é toda ela beneficiária. A Alagamares
voltará ao tema, neste ou noutro figurino, numa óptica de participação
positiva e disponibilidade para construir pontes e tornar o diálogo
permanente.
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