Promoveu a Alagamares no dia 23 de Novembro no Café Saudade, em Sintra, a apresentação do livro de Sérgio Luís Carvalho “O Exílio do Último Liberal”.
Sérgio Luís de Carvalho, autor de uma já vasta obra no campo do
designado “romance histórico”, que já em 2007 fez parte da organização
do III Encontro de História de Sintra promovido pela Alagamares, e por
duas ou três vezes participou em sessões literárias por nós promovidas, é
um dos escritores contemporâneos mais profícuos, alem de ser um
sintrense e em Sintra exercer a sua profissão e nela se ter inspirado
para algumas das suas obras, como é o caso de “Anno Domini 1348” (Edição CMS, Prémio Literário Ferreira de Castro 1989), para além de títulos como “As Horas de Monsaraz” (Campo das Letras, 1997), “El-Rei-Pastor” (Campo das Letras, 2000), “Os Rios da Babilónia” (Campo das Letras, 2003), “Retrato de S. Jerónimo no seu Estúdio” (Campo das Letras, 2006), entre outros, sendo as suas obras mais recentes “O Destino do Capitão Blanc”(Planeta,2009) ou “O Segredo de Barcarrota”, também por nós apresentado no Café Saudade já este ano.
Característica comum a todas as obras é a de aliar o romance com o rigor histórico, por uma questão de seriedade. “Não posso colocar D. Dinis a comer batatas ou D.Fuas Roupinho a falar em “minutos” disse certa vez. Se sobre Sintra foi a sua obra de lançamento, Anno Domini 1348,
o ano da mortífera peste que assolou a Vila e nela ceifou vidas, é
sobre o antigo alcaide seiscentista de Sintra, André de Albuquerque
Ribafria que revelou já vir a gostar
de escrever uma obra. Tendo Alexandre Herculano como o pai do romance
histórico e também como referência, Sérgio Luís Carvalho é um produtor
profícuo, abraçando épocas e contextos históricos dos mais díspares,
e para tanto realizando um sério e extenso trabalho de investigação.
Na obra apresentada, O Exílio do Último Liberal, presenteia-nos com um “romance com final feliz” no dizer de Miguel Real, situado na Europa de 1830, quando em Portugal se erguiam forcas e em Inglaterra fábricas, frase que marca o tom da narrativa que nos levará de Lisboa e Coimbra a Londres, e tendo o jovem e rebelde Sebastião, exilado e assistente do médico inglês William White, como protagonista. Mais uma obra de fôlego que revisita a História de Portugal e consagra um percurso consistente e sedutor, sobretudo para quem gosta do romance histórico, esventrando os primeiros tempos das autópsias legais, na nebulosa Londres, aguardando o dia em que vitoriosos os liberais e posta D.Maria no trono volta a Lisboa para seguir o seu destino.
Na obra apresentada, O Exílio do Último Liberal, presenteia-nos com um “romance com final feliz” no dizer de Miguel Real, situado na Europa de 1830, quando em Portugal se erguiam forcas e em Inglaterra fábricas, frase que marca o tom da narrativa que nos levará de Lisboa e Coimbra a Londres, e tendo o jovem e rebelde Sebastião, exilado e assistente do médico inglês William White, como protagonista. Mais uma obra de fôlego que revisita a História de Portugal e consagra um percurso consistente e sedutor, sobretudo para quem gosta do romance histórico, esventrando os primeiros tempos das autópsias legais, na nebulosa Londres, aguardando o dia em que vitoriosos os liberais e posta D.Maria no trono volta a Lisboa para seguir o seu destino.
Sobre a obra, escreveu Miguel Real no Jornal de Letras:
(...)um
dos legítimos continuadores de Fernando Campos, João Aguiar e Mário de
Carvalho neste género literário, a par com Pedro Almeida Vieira, João
Paulo Oliveira e Costa, Júlia Nery, Paulo Moreiras, João Pedro Marques,
Paula de Sousa Lima, acaba de publicar um romance com final feliz, O
Exílio do Último Liberal.
Tão
raros são hoje os “finais felizes” e tão trágico (mesmo distópico) tem
sido o modo de representação estética da realidade portuguesa no
romance, que é de saudar, por inesperado, um romance com um final feliz.
Aliás, um romance com uma belíssima frase inicial e um belíssimo
final.
No
romance ora publicado, ainda que referido, desapareceu a importância
do cão – personagem integrante dos romances de Sérgio Luís de Carvalho
desde a década de 90 -, substituído por um gatinho (Yellow), de menor
importância na problematização da história (por não ter expressa
relação com o universo humano). E desapareceu igualmente a componente do
maravilhoso que o autor experimentara – com nítido sucesso – em O
Segredo de Barcarrota, estatuindo o Diabo como uma personagem com
existência entre a realidade onírica e a realidade física. Com a
supressão da componente fantástica, O Exílio do Último Liberal
devolve-nos o Sérgio Luís de Carvalho de sempre, um romancista
realista, com um forte pé na História, leal a fontes coevas, narrando
fidedignamente a atmosfera social da época, criando tanto uma história
verosimilhante quanto personagens plausíveis.
Neste
sentido, Sérgio Luís de Carvalho assume a autoria da narração de uma
história no sentido clássico do termo, inclusive rematando-a com um
final feliz. Para trás ficaram os experimentalismos sintácticos dos seus
primeiros romances, bem como o valor literário trágico que atribuía
tanto às personagens como à própria história. Esperemos pelo futuro, mas
por ora é como se o autor tivesse regressado às fontes vivas e
permanentes do romance histórico no sentido alexandre-herculiano do
termo.
E
regressou da melhor maneira. O Exílio do Último Liberal é um genuíno
romance histórico clássico, iluminador de um tempo português (guerra
civil entre Liberais e Absolutistas no Constitucionalismo Monárquico) e
inglês (momento de liberalização das autópsias na Inglaterra), de um
espaço português (Coimbra, Porto, Lisboa) e britânico (Londres), dotado
de personagens suficientemente representativas de ambos os tempos
históricos, com a sua personalidade singular e a sua actividade
suficientemente rara ou original para receber destaque num romance.
A
frase de abertura é geradora de um autêntico “programa” literário. Sob
o seu sentido, poderia o autor escrever três ou quatro romances
sintetizadores do estado político das sociedades portuguesa e inglesa ao
longo do século XIX: “Naquele ano de 1832 erguiam-se forcas em
Portugal e fábricas em Inglaterra” (p. 9). Os tormentos da Guerra
Civil, em Portugal, tinham enviado pata o exílio em França e na
Inglaterra centenas de militantes liberais, entre os quais Alexandre
Herculano e Almeida Garrett. Salvador, estudante de Medicina, povoado
de traumas infantis devido à sua origem familiar, exilado em Londres,
não participara nas batalhas liberais. Pertencera ao grupo carbonário
dos Divodignos (“Dignos de Deus”) que assassinara dois lentes de
Coimbra integrantes da comissão da Universidade que vinha a Lisboa
saudar o regresso de D. Miguel (pp. 277 ss.). Salvador fora perseguido
em todo o país pelos absolutistas. Em Londres é auxiliado pelo capitão
Romão José Soares (p. 287), o mesmo que, regressado em triunfo a
Lisboa, no dia 24 de Junho (de 1833, nome da avenida marginal ocidental
de Lisboa), matará o torcionário absolutista Teles Jordão, director do
Forte de São Julião da Barra, cadeia tão asquerosa para os liberais
como Caxias para os oposicionistas do Estado Novo. Em Londres,
Sebastião tornara-se assistente do médico William White, no Hospital de
São Tomás. Pressionado pelas necessidades financeiras, Salvador integra
o grupo dos “Ressurrecionistas”, que rouba cadáveres no cemitério de
Bloomsbury para os vender aos hospitais, destinados a práticas
operatórias. Em Londres, o bairro de Whitechapel e a zona pobre de East
End contrastam com os bairros finos de Westminster, Hammersmith, ou
Harley Street, onde vive o juiz Black, terror dos médicos que praticam a
autópsia (pp. 42 ss.). O juiz Black apaixona-se por Rose, costureira,
noiva de Salvador e, segundo palavras do juiz, “reencarnação”
do corpo da sua falecida mulher. Ted Nunn, antigo carvoeiro, pai de
Rose, velho, doente, albergado em Shoe Lane, antecâmara da morte para
pobres, receia que o seu cadáver seja retalhado pela autópsia, impedindo
o seu corpo de se apresentar intacto perante o Senhor e de cumprir “em
paz o seu sono derradeiro”. Ted opõe-se à paixão mórbida de Black por
Rose e simpatiza com Salvador, abençoando o futuro casamento da filha
com este. O médico White aprecia muito positivamente o trabalho de
Salvador no hospital. A Câmara dos Comuns legisla sobre a matéria,
enviando os cadáveres dos pobres para a mesa da autópsia, livrando desta
os dos ricos. Mas – história com final feliz - o corpo de Ted não será
retalhado, o mesmo não acontecendo ao corpo do juiz Black. D. Pedro IV
vencera o irmão absolutista em Lisboa, D. Maria II vem de França para
Portugal assumir o trono, que D. Miguel lhe roubara. Salvador, já
médico, amnistiado politicamente, com algum dinheiro, regressa Portugal
no navio que transporta D. Maria II. Salvador pode, enfim, confessar a
Rose: “Vamos ser muito felizes, Rose” (p. 318).
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