sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Chalé da Condessa, a saga continua



Apesar de os trabalhos de recuperação do Chalé da Condessa e sua envolvente estarem em grande parte concluídos, no que constituiu uma causa da Alagamares desde 2006,


nem por isso deixa a sociedade civil de Sintra de acompanhar com critério os desenvolvimentos de tudo o que se prende com a intervenção aí ocorrida, no desenvolvimento de um raro ciclo virtuoso na recuperação do património em Portugal.

Iniciada num período em que os habituais procedimentos herdados do passado pareciam anunciar mais do mesmo, isto é, incúria e esbanjamento de recursos públicos em prol de “amigos” e “correlegionários”, a administração da PSML,  desde 2006 sob a égide do prof. António Lamas, teve o condão de, além de se debruçar a sério sobre o dossiê, viabilizar e captar uma série de apoios financeiros internacionais, noruegueses sobretudo, e vencer resistências junto dos stakeholders locais, que desde então passaram a acompanhar a gestão, e a ser ouvidos pela sua administração, bem como pelas missões da UNESCO que desde então visitaram Sintra.

Vítima do fogo em 1999, em ruínas até 2006, foi por força dessa equipa, e de algumas vozes que pressionaram para a urgência do restauro (nas quais incluo a Alagamares, a Associação de Defesa do Património de Sintra, e cidadãos como João Cachado, Emília Reis, Jesus Noivo, e outros) que em 10 de Maio de 2011 a beleza original do ninho de amor de Fernando e Elise finalmente recuperou vida, e foi devolvida à fruição pública. Durante os anos que demoraram os trabalhos, aos parceiros da sociedade civil sempre foi permitido o seu acompanhamento por parte da administração do Parque (prof. Lamas, dr. Lacerda Tavares) ou dos técnicos no terreno (arq.Lobo de Carvalho, Nuno Oliveira, Inês Moreira, Slava Ruíz, Rita Alves, etc) sempre disponíveis para o “abrir para obras” e recolha de sugestões, adoptando assim uma prática até então desconhecida por parte da entidade gestora, e que a todos congregou em prol do resultado final.

A PSML é hoje um importante agente cultural e dinamizador da Paisagem Cultural de Sintra. Com 1.068.000 visitantes nos seus parques e palácios em 2011, mais 10,4% que em 2010, e um acréscimo de receitas operacionais, que alcançaram nesse período mais de 9 milhões de euros (em comparação com pouco mais de 2 milhões em 2005), continuou, felizmente, e de forma sustentada, na senda das intervenções nas propriedades por si administradas em nome do Estado, tendo visto recentemente alargada a sua jurisdição aos Palácios da Vila e Queluz, e à Escola Portuguesa de Arte Equestre. 

No Chalé da Condessa, novo pólo de atracção, não estando concluídas ainda todas as obras, constata-se com apreço uma evolução bastante positiva, face ao anterior estado comatoso: abriu o Chalé e o Jardim da Condessa, com o apoio do fundo norueguês EEGrants, tendo como parceiro o NIKU- Norwegian Institute for Cultural Heritage and Research, tendo as obras no Chalé orçado em 1.450.000 euros, 60% financiados pelo EEGrants; procedeu-se ao restauro da Sala das Heras, após estudo de materiais e argamassas, tendo sido concluída a parte respeitante à escadaria, alguns tectos e pavimentos; elaborou-se projecto para uma cafetaria e instalações sanitárias, junto à casa do guarda, e actual bilheteira; recuperou-se a Quinta da Pena e o jardim ornamental, no que se despenderam 1.350.000 euros, 45% vindos do apoio do EEGrants; criou-se um parque de estacionamento na Tapada do Mouco, com 65 lugares, sendo 4 para visitantes com mobilidade condicionada; a par de intervenções na floresta, na sinalética, rede eléctrica e caminhos, ou a aquisição de 3 cavalos ardennais para trabalhos de intervenção na floresta e para passeios lúdicos. Também ao nível da segurança contra incêndios, a aquisição do programa Odissey serviu já para a gestão de alarmes, tendo sido experimentado a quando do recente incêndio de 11 de Julho, com origem na Quinta da Capela.

Como contraponto, pode-se apontar o preço cobrado para as visitas, ou para o uso dos espaços e imagem para fins publicitários ou artísticos, sobretudo pelos visitantes nacionais, tendo em conta o período de restrições económicas que vive o país. Falta igualmente um plano abrangente para toda a área da Paisagem Cultural de Sintra, envolvendo a PSML, a Câmara, e a sociedade civil, com uma estrutura única e centralizada de gestão, acabando com as 17 entidades que se atropelam nesse território.

A Alagamares, bem como todos os activistas em prol do património de Sintra, não deixarão de se manter atentos à evolução e conclusão dos trabalhos ainda pendentes, tarefa permanente, mesmo quando os highlights mediáticos já feneceram, sabendo-se que um desastrado desmantelamento da estrutura ou da equipa que nos últimos anos foi congregada, por via de algum corte cego ou malabarismo político, pode a qualquer momento deitar por terra o trabalho já executado, para mais numa época em que a Cultura não é prioritária e se assiste a um paranóico emagrecimento do Estado e seus deveres, também na área do património. Estamos e estaremos atentos.

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