Liberto
Cruz, Maria Almira Medina, Miguel Real, Filomena Marona Beja, Raquel
Ochoa, Luís Filipe Sarmento,Jorge Telles de Menezes, Helena Langrouva,
Sérgio Luís Carvalho- conheça aqui a obra de alguns dos principais
escritores de ficção vivos naturais ou residentes em Sintra. Lista
incompleta, como sempre nestas ocasiões, todos com grande e relevante
actividade, e cuja leitura é obrigatória.
Depois
do desaparecimento há 2 anos de M.S.Lourenço, ainda não devidamente
lembrado na terra onde nasceu e viveu, elenca-se aqui a nossa selecção,
sem ordem de apresentação relevante:
Liberto Cruz
Nascido
em Sintra, em 1935, é uma figura de prestígio da cultura portuguesa,
no plano nacional e internacional. Poeta e ensaísta, crítico literário,
tradutor, conferencista, licenciado em Filologia Românica pela
Faculdade de Letras de Lisboa, colaborador do antigo Jornal de Letras e
Artes, da revista Colóquio Letras, fundador da revista literária A Síbila,
membro da Associação Internacional de Críticos Literários, exerceu
actividades docentes e diplomáticas em França durante 22 anos.Foi um
notável impulsionador do estudo de literatura africana de expressão
portuguesa nas universidades de Rennes e de Vincennes (Paris), de 1967 a
1976. Exerceu com brilho, eficiência e generosidade as funções de
Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Paris, de 1976 a 1988.
De regresso a Portugal foi convidado para director de serviços da
Fundação Oriente, em Lisboa. Foi recentemente integrado na secção de
Cultura da missão da UNESCO, em Portugal, fazendo ainda parte da
Direcção da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa. Liberto Cruz
tem sido ainda convidado para júris literários, seminários e colóquios
nacionais e internacionais. É um sintrense raro pela sua cultura e pelo
seu trato humano, a quem muito se deve. Sintra deverá sempre
reconhecê-lo e dele orgulhar-se. Dele escreveu Helena Langrouva:
“Como sintrense, modelado pela beleza e o mistério de Sintra, em Caderno de Encargos,
Liberto Cruz concentra em alguns sonetos o seu regresso às origens e à
casa paterna (son. 20, pg. 32), à Serra de Sintra (son. 20, pg. 32),
ao rio da sua infância (son. 39, pg. 51), à atitude meditativa que a
sua companheira árvore lhe inspira (48, pg. 60). O retorno a esse
espaço não é de quem dele se afastou voluntariamente, - "não sendo um
filho pródigo / volto à casa paterna / e com saudades chego / como
quando parti" (son. 22, pg. 34), mas a renovação de um afecto que
perdurou, apenas inexoravelmente alterado pela morte da mãe . "Nada
mudou. Faltas tu / mãe e de repente tudo / foge já nada existe"
(ibidem).
O
regresso à serra, ao seu silêncio agudiza a consciência da sua própria
identidade embora evoluída no tempo que simultaneamente o torna
"outro" no seu ser, no seu modo de olhar a paisagem, na mudança do seu
próprio corpo - "À serra volto ainda / No silêncio das pedras me vejo
então um outro / mas o mesmo sendo"... "outra forma de estar / perante a
mesma paisagem / aceito".... "o mesmo sinto um outro / na viagem do
meu corpo / as pedras a serra vendo" (son. 18, pg. 30).
O
seu corpo a envelhecer parece renovar-se correndo "em redor do velho
corpo da serra adormecida", o qual se transforma pela magia de "duendes e
fantasmas", "camélias, túlipas"... "de rosas e buganvílias / agapantos
araucárias" (son. 38, pg. 50). Essa magia rejuvenesce a serra e
suscita saudade em ambos - "Em redor do jovem corpo / da jovem serra de
Sintra / de novo corro. Antigo / agora o corpo meu / de saudades de um
rio / em mim e na serra correm" (ibidem). É a nostalgia comungada da
juventude do sujeito do poema e da paisagem da sua infância como se a
serra fosse animizada na sua velhice, embora sempre renovada, no seu
corpo, por seres mágicos, flores e árvores. A Serra de Sintra é ainda
contemplada nas suas cores, aves, silêncio, pedras, ervas, para
acompanhar o mistério da presença da vida e da morte, identificáveis
com "sinais de um deus". O divino manifesta-se na própria identidade e
beleza da serra, companhia da vida e da morte - "Entre a vida e a morte
/ é a montanha divina" (son. 20. pg. 32).
Bibliografia: Momento, Sintra, 1956; A Tua Palavra, Sintra, 1958; Névoa ou Sintaxe, Sintra, 1959; Itinerário, 1962; Gramática Histórica, 1971 (pseudónimo, Álvaro Neto); Distância, 1976; Ciclo, 1982; Jornal de Campanha, Cacilhas, 1986; Caderno de Encargos, Lisboa, 1994; Júlio Dinis - Análise Bibliográfica, Paris, 1971; José Cardoso Pires, Lisboa, 1972.
Jorge Telles de Menezes
Poeta, tradutor, dramaturgo, cultor de spoken word.
Sintra estruturou a sua existência. O verdadeiro cosmopolita é o mais
puro defensor da tradição. Cresceu como ser humano quando traduziu
Martin Heidegger e William Faulkner. De poesia publicou os livros In einer Fremden Stadt e Selenographia in Cynthia. É contra a civilização do petróleo, só usa transportes públicos. Recentemente editou Novelos de Sintra, de que se disse “
Um homem, uma mulher, uma montanha, uma casa, todos os outros homens e
todas as outras casas, aldeias pequenas, médias e grandes e uma
cidade. Sem nomes, eles são arquétipos das relações entre os humanos e
entre estes e o património natural e construído. A meio do novelo,
escapa contudo um topónimo que lhe retira o carácter universalista,
pois afinal a utopia tem um nome – «Acordou no paraíso que o homem
roubou para a terra ao reino de Deus: a montanha de Sintra».
Desdenhando da necessidade de conceder verosimilhança à sua narrativa, o
autor aproxima a sua novela da tradição de realismo fantástico – e não
pede sequer permissão ao leitor para lançar para a cena personagens
improváveis vivendo situações impossíveis. Se quisermos aproximar a
novela de Telles de Menezes de um referente português, poderemos sem
dúvida fazê-lo em relação às novelas de José Saramago, que aspiram a
afirmar-se, segundo o Nobel luso, como «um espaço criativo onde devem
estar o ensaio, o drama, a filosofia, a ciência», oferecendo-se como
«um depósito da sabedoria humana»
Está
presentemente empenhado na revista literária online Selene-Culturas de
Sintra. Entrevistei-o recentemente, uma extraordinária viagem pelo
pensamento contemporâneo para ler em:
Maria Almira Medina
Nome incontornável
de poeta, pintora, caricaturista e jornalista, sendo a sua “Menina
Girassol” um título hoje incontornável. Foi igualmente directora do Jornal de Sintra. A decana da Cultura em Sintra.
Maria
Almira Pedrosa Medina nasceu em Tavarede, Figueira da Foz, a 29 de
Agosto de 1920, mas vive em Sintra desde os seis anos de idade.
É
licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, possuindo também o curso de Ciências
Pedagógicas. Quando docente, foi animadora de uma acção de ensino do
teatro e da poesia junto de escolas secundárias e coordenadora de
jornais escolares impressos, que incentivaram exposições, colóquios e
actividades regionais.
Como
artista plástica, expõe desde 1943, abrangendo a sua multifacetada
actividade a pintura, o desenho, a cerâmica, a ilustração, o desenho
animado, a caricatura, a trapologia, a joalharia, os têxteis, a
publicidade e o estilismo.
Fez
a sua primeira exposição colectiva em Sintra – “I Exposição dos
Artistas Sintrenses” (1943) – e a sua primeira exposição individual em
Lisboa, na Galeria “Stop” (1945), tendo depois exposto em vários
locais, desde a sua terra natal, Figueira da Foz, até à sua terra de
adopção, Sintra.
Nas
exposições que realizou, ao longo de mais de 65 anos, passou pelas
localidades de Albufeira, Estoril, Coimbra, Lisboa, Oeiras, Oliveira de
Azeméis, Porto, Porto de Mós, Vimeiro e ainda a Ilha de Jersey
(Grã-Bretanha), entre vários outros locais.
Maria
Almira Medina conta ainda no seu curriculum com diversas colaborações
em vários jornais, revistas e livros escolares, alternando textos com
ilustrações. A autora conta com seis livros publicados, estando a sua
obra presente em várias antologias poéticas.
Foi
membro da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto,
Associação dos Amigos de Ferreira de Castro, Associação Portuguesa de
Educação pela Arte, Associação Cultural Sol XXI, sendo actualmente
membro da Associação de Escritores, Instituto de Sintra e cooperadora
da Sociedade Portuguesa de Autores.
Ao
longo da sua extensa carreira, Maria Almira Medina granjeou vários
prémios e distinções, o primeiro dos quais em 1948 – 1º Prémio no
“Concurso de Caricatura da Gente da Rádio”, promovido pela Casa do
Pessoal da Emissora Nacional, em 2009 foi homenageada pela Câmara
Municipal da Figueira da Foz (em simultâneo com uma homenagem a seu pai,
António Medina Júnior).
Miguel Real
Miguel Real é o
pseudónimo literário de Luís Martins (1953 -) Escritor, ensaísta e
professor de filosofia. Em 2006, conquistou o Prémio Literário Fernando
Namora com o romance A Voz da Terra. Licenciado em Filosofia pela
Universidade de Lisboa e Mestre em Estudos Portugueses pela Universidade
Aberta, com uma tese sobre Eduardo Lourenço.É, actualmente,
colaborador do JL, Jornal de Letras, Artes e Ideias onde faz crítica
literária. É ainda radialista na Antena 2, no programa Um Certo Olhar
com, Maria João Seixas, Luísa Schmidt, Carla Hilário Quevedo e Luís
Caetano.
Bibliografia: Agostinho da Silva e a Cultura Portuguesa (2007)O Último Minuto na Vida de S. (2007)O Último Negreiro (2007) Quidnovi O Último Eça (2007] Quidnovi 1755 - O Grande Terramoto (2006) Europress O Marquês de Pombal e a Cultura Portuguesa (2006) Quidnovi Voz da Terra (2006) O Último Guerreiro (2006) O Último Eça (2006) A Voz da Terra (2005) Quidnovi O Essencial Sobre Eduardo Lourenço (2003) I.N.- C.M. Eduardo Lourenço - Os Anos da Formação 1945-1958 (2003) I.N.- C.M. Os Patriotas (2002) Europress Geração de 90 (2001) Campo das Letra A Visão de Túndalo Por Eça de Queirós (2000) Difel Portugal.Ser e Representação (1998) Difel A Verdadeira Apologia de Sócrates (1998) Campo das Letras Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em «Memorial do Convento» de José Saramago (1996) Editorial Caminho A Morte de Portugal, entre outros. Recentemente editou na Planeta “História do Pensamento Português Contemporâneo 1890-2010 Prémios Literários :Prémio
Revelação de Ficção da APE/IPLB em 1979 (O Outro e o Mesmo)Prémio
Revelação de Ensaio Literário da APE/IPLB em 1995 (Portugal – Ser e
Representação)Prémio LER/Círculo de Leitores 2000 (A Visão de Túndalo
por Eça de Queirós)Prémio Fernando Namora da Sociedade Estoril Sol em
2006 (A Voz da Terra), entre outros.
Luís Filipe Sarmento
Luís Filipe Sarmento
nasceu a 12 de Outubro de 1956. Escritor, Tradutor e Realizador de
Televisão Jornalista desde 1970, publicista, editor, realizador de
cinema e vídeo. Licenciatura em Filosofia pela Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa. Professor de Escrita Criativa. Alguns dos seus
textos encontram-se traduzidos em inglês, espanhol, francês, italiano,
mandarim, japonês, romeno, macedónio, croata e russo. Produziu e
realizou a primeira experiência de Videolivro feita em Portugal para o
programa Acontece para a RTP, durante sete anos. Membro do International
P.E.N. Club. Membro da Associação Portuguesa de Escritores.
Coordenador Internacional da Organization Mondial de Poétes
(1994-1995). Membro do International Comite of World Congress of Poets.
Presidente da Associação Ibero-Americana de Escritores (1999-2000).
Algumas das suas obras: Fim de Paisagem; Matinas, Laudas, Vésperas,
Completas; Boca Barroca; Crónica da Vida Social dos Ocultistas, entre
outras dum vasto percurso de mais de 30 anos. A seguir, entrevista com o
mesmo, efectuada com o signatário para o site da Alagamares-Associação
Cultural:
Helena Langrouva
Natural da
freguesia de São Martinho de Sintra e residente em Sintra, é
Licenciada em Filologia Clássica (Universidade de Lisboa), Maître ès
Lettres Modernes - Cinéma (Montpellier III - Université Paul Valéry),
Pós-graduada - D.E.A. (Paris III - La Sorbonne Nouvelle), Master of Arts
e Master of Philosophy (Londres - King's College) em Estudos
Portugueses e Doutorada em Literatura (Lisboa, Universidade Nova).
Investigadora interdisciplinar, em particular da Cultura Clássica,
Renascentista (séculos XV e XVI) e do século XX, foi recentemente
convidada a integrar um grupo de investigação em História da Arte, na
Faculdade de Letras de Lisboa. Foi leitora de Língua e Cultura
Portuguesas nas Universidades de Montpellier e Rouen, França, leccionou
Literatura no ensino superior, com passagem pelo secundário onde
leccionou Grego, Latim e Português. Escritora, publicou A Viagem na
Poesia de Camões, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e FCT, 2006;
Actualidade d'Os Lusíadas, Lisboa, Roma Editora, 2006; De Homero a
Sophia. Viagens e poéticas, Coimbra, Angelus Novus, 2004; Arpejos de uma
viandante/Arpèges (poesia bilingue), Lisboa, edição de autor, 2003;
ensaios nas revistas Brotéria, O Tempo e o Modo e Critério (Lisboa), em
volumes colectivos. Traduziu Lanza Del Vasto, Não-Violência e
Civilização - Antologia, Lisboa, Brotéria, 1978; Jean Joubert, O Homem
de Areia (romance), Lisboa, Difel, 1991. É co-organizadora e co-autora
de Humanismo para o nosso tempo - Estudos de Homenagem a Luís de Sousa
Rebelo, Lisboa, patrocínio da F. Gulbenkian (contacto:APPACDM-Braga),
2004. Foi encarregada da Biblioteca Municipal de Sintra - Palácio
Valenças- nos seus tempos de estudante, tendo organizado, com um grupo
de Amigos da Biblioteca, actividades culturais, no Palácio Valenças e no
antigo Cine-Teatro Carlos Manuel. Tem escrito ao longo da vida e
continua a dedicar-se à escrita. Estudou Artes Musicais - Canto
Clássico: Curso Geral e em privado (Lisboa), Canto Gregoriano, Popular e
Litúrgico (Lisboa e França); pratica Canto a solo e em grupo. Estudou
Artes Plásticas – Desenho e Pintura (Lisboa e Paris) e Iconografia
(Paris). Realizou exposições individuais de Pintura em Sintra, Lisboa e
Évora. Desenha e pinta ícones inspirados na tradição grega e russa, em
têmpera sobre madeira, que ela própria prepara e disponibiliza através
do Atelier Saint Rapahel (www.atelier-st-raphael.pt.vu). A sua página
no Triplov tem o endereço www.triplov.com/helena/.
Sérgio Luís Carvalho
Licenciou-se em História (1981) e é mestre em História Medieval (1988).Foi Director Científico do Museu do Pão.
Publicou os romances “Anno Domini 1348”
(Edição C. M. S., 1990; Prémio Literário Ferreira de Castro 1989;
finalista do Prémio Jean Monnet de Literatura Europeia, Cognac 2004 e
finalista do Prémio Amphi de literatura Europeia Lille 2005), “As Horas de Monsaraz” (Campo das Letras, 1997), “El-Rei-Pastor” (Campo das Letras, 2000), “Os Rios da Babilónia” (Campo das Letras, 2003), “Retrato de S. Jerónimo no seu Estúdio” (Campo das Letras, 2006), entre outros, sendo a sua obra mais recente “O Destino do Capitão Blanc”(Planeta,2009,
Alguns
dos seus romances estão traduzidos e publicados em França e Espanha. É
ainda autor de vários livros de investigação histórica e literatura
juvenil.Entrevista para o site da Alagamares-Associação Cultural em:
Filomena Marona Beja
Filomena Marona Beja, que
nasceu em Lisboa a 9 de Junho de 1944,trabalha em documentação
técnico-científica e foi já distinguida pelo romance “A cova do lagarto”
publicado em 2007 pela Sextante Editora.
Para
além deste livro, a escritora tem publicado outros romances que foram
muito bem acolhidos pela crítica, como é o caso de “As Cidadãs
(Cotovia, 1998) ”, “Betânia (Cotovia, 2000) ” “A Sopa (Âmbar, 2004) ”
ou “Bute daí Zé!”(2010).Tem
também publicado vários contos. O seu mais recente intitula-se “Gil
Eanes”, na Antologia “Viana a Várias Vozes” (comemorativa dos 750 anos
do Foral de Viana do Lima).
Raquel Ochoa
Raquel Ochoa, revelação no
panorama literário, residente em Sintra, nasceu em 1980. Na sequência
de uma viagem de vários meses pela América Central e do Sul, editou O Vento dos Outros, em 2008. No mesmo ano publicou Bana – uma Vida a Cantar Cabo Verde, a biografia de um mais populares músicos africanos.
Em 2009 venceu o Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís, com o romance A Casa-Comboio, a saga de uma família indo-portuguesa ao longo de quatro gerações.
A Infanta Rebelde é a sua primeira obra publicada pela Oficina do Livro.
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