Uma
das figuras mais em evidência no Colares do fim do século XIX foi
António Chaves Mazziotti. Mazzotti nasceu em Colares, Sintra em 21 de
Fevereiro de 1843 e faleceu em Lisboa a 10 de Maio de 1912, filho do
comendador António Mazziotti Júnior e de Maria do Carmo Zeferino de
Azambuja .Chaves Mazziotti seguiu as pisadas do pai - atingiu a posição
de maior contribuinte do concelho de Sintra - e foi uma personalidade
destacada na vida social local. Participou na fundação do antigo Jornal
de Cintra (1885), primeiro periódico da era moderna da imprensa
sintrense, era sócio da Sociedade União Sintrense, membro da
Misericórdia local e um dos fundadores dos Bombeiros de Colares. Foi o
maior entusiasta do nascimento da Praia das Maçãs, integrando a comissão
que desde 1884 lançou a construção da estrada do Banzão à nova
localidade e presidindo à «Sociedade Edificadora» constituída para o
progresso da Praia das Maçãs. Pertenceu à Real Associação Central da
Agricultura Portuguesa (17.5.1869 a 10.4.1877) e faz parte da direcção
desta associação em 1872. Possuía várias comendas nacionais e
estrangeiras, o título de fidalgo-cavaleiro da Casa Real (5.2.1877) e
foi agraciado com a carta de Conselho em 1910.
Casou
com Heloísa de Almeida e Albuquerque, filha de Luís de Almeida e
Albuquerque, fundador do Jornal do Comércio e director da Escola
Politécnica. Entrou na política aos 16 anos, filiando-se no Partido
Histórico (20.1.1860), e foi depois figura proeminente do Partido
Progressista. Detinha o n.º 3 na lista de filiados de Lisboa, logo a
seguir a José Luciano de Castro e a D. Miguel Pereira Coutinho e pagava a
mais avultada quota (mil réis mensais), além de se afirmar como o maior
influente político no concelho de Sintra. Durante 17 anos pertenceu à
Junta Geral do Distrito de Lisboa e, em representação da Câmara dos
Deputados e do Governo, substituíu Wenceslau de Lima (alta figura
regeneradora que chegaria a primeiro-ministro) como vogal e secretá-rio
da Junta de Crédito Público.
Foi
pela primeira vez candidato a deputado em 1878, apresentando-se no
círculo uninominal de Sintra, mas foi derrotado por Francisco Joaquim da
Costa e Silva, que anteriormente já vencera seu pai. Em 1879 voltaram a
defrontar-se, mas desta vez a vitória coube a Chaves Mazziotti que veio
novamente a representar o círculo de Sintra em resultado das eleições
de 1887, 1889, 1897, 1899 e 1900 Em 1886 chegou ao Parlamento como
deputado por Beja, vencendo uma eleição suplementar. A partir de 1901 e
até à última eleição monárquica, em 1910 (exceptuando a de Abril de
1906), com a inclusão de Sintra no círculo plurinominal de Lisboa
ocidental (lei eleitoral de 1901), passou a ser eleito nesta
circunscrição (juramento a 18.3.1902, 4.10.1904, 10.4.1905, 2.10.1906 e
2.5.1908, respectivamente).
Na
Câmara dos Deputados participou em diversas comissões, pertencendo à
Comissão de Agricultura em nove sessões legislativas. Quanto às
intervenções no plenário foram em grande medida centradas nos problemas
do seu círculo eleitoral: cobrança de impostos, caminho de ferro,
organização da justiça, financiamento da construção de repartições
públicas, questão da filoxera, crise vinícola, acção do administrador do
concelho, criação de escolas, conservação e construção de novas
estradas, apoio à instalação e exploração da iluminação eléctrica, etc.
No plano da política geral destaque para propostas e projectos de lei
sobre sociedades anónimas a inserir no Código Comercial (20.2.1888); de
alteração de um artigo do Código Administrativo (23.5.1888); de
manutenção do círculo eleitoral de Sintra sem agregação do concelho de
Cascais, zona onde detinha reduzida influência política (4.7.1899); de
fornecimento pelo Estado do bronze necessário à construção da estátua a
Afonso de Albuquerque (7.6.1899); de proibição do uso de margarinas ou
outras substâncias no fabrico de manteiga (27.5.1903) e sobre a
fiscalização da denominação de origem dos vinhos (29.1.1907).
Chaves
Mazziotti não produziu nenhum discurso de fundo, não discutiu qualquer
das grandes questões políticas no parlamento nem foi relator de qualquer
parecer de comissão. Manifestamente não possuía dotes oratórios,
limitava-se a curtas intervenções e a pequenos textos de fundamentação
dos seus projectos de lei. Como momentos altos na sua carreira de
deputado poderão destacar-se 1899, quando efectuou o maior número de
intervenções no hemiciclo; a sessão de 8.3.1901, quando quebrou a sua
proverbial solicitude e interrompeu o primeiro-ministro Hintze Ribeiro,
contradizendo a explicação sobre um conflito entre polícias e estudantes
na Escola Politécnica, e a sessão de 29.1.1904 quando se manifestou
contra um emergente sinal do progresso técnico ao defender o fim dos
«passeios de automóveis pelas ruas da cidade de Lisboa» porque «ninguém
se utiliza de um automóvel para fazer compras ou visitas».
Depois
do 5 de Outubro manteve-se fiel ao ideal monárquico, mas afastou-se da
política. Frequentava os cafés, como o Baltresqui e a Havaneza do
Chiado, onde passava horas em amena cavaqueira e tendo por vezes ditos
espirituosos que faziam época, um estilo que nunca patenteou enquanto
deputado.Sua filha Maria do Carmo casou com o conhecido cientista Carlos
França.
A
casa onde morou é um dos ex-libris de Colares, conhecido como Quinta
Mazziotti-França, e teve as suas origens em 1588,quando Filipe II
concedeu a um músico da sua corte, António Roiz de Arouche, os direitos
sobre as águas da Serra de Sintra. Das primeiras edificações então
realizadas, nada chegou até nós, desconhecendo-se, por completo, quais
as infra-estruturas patrocinadas por Arouche. O conjunto habitacional
que hoje se pode contemplar- então chamado Quinta da Porta ou dos Fieis
de Deus- data do século XVIII e foi originado a partir da venda da
propriedade por Manuel Francisco de Arouche, em 1758. O novo dono, Bento
Pereira Chaves, era cavaleiro da Ordem de Cristo, criado de D. José,
fundidor da Casa da Moeda e, mais importante pela ligação à propriedade,
sargento-mor de Colares, o que explica a opção por este espaço para sua
residência.A partir desta data, foi objecto de uma ampla reforma
arquitectónica, continuada posteriormente por seus filhos, José Dias
Pereira Chaves e Sebastião Dias Pereira Chaves, este último afilhado do
Marquês de Pombal.Em 1830, Maria do Carmo, filha única de Sebastião
Chaves, casou com António Mazziotti, diplomata italiano de serviço no
nosso país, e pai de António Chaves Mazziotti, passando a quinta a ter o
seu nome. Até que depois de alguns destaques, foi adquirida por João
Francisco Justino, antigo presidente da Câmara de Sintra. Mas foi
António Maria Dias Pereira Chaves Mazziotti o membro da família que mais
marcou a vida de Colares, a par de figuras como Alberto Tota, Brandão
de Vasconcelos, Arlete Reis ou José Inácio da Costa, pelo seu papel de
filantropo e político.
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