José
Alfredo da Costa Azevedo (1907-1991) - entre outras ocupações, foi um
investigador e historiógrafo que se debruçou sobre variados temas
relacionados com Sintra, a sua História, o seu Património e as suas
gentes. Amava esta terra onde nasceu, e a ela devoto, empenhou-se com
afinco em diversas causas pela defesa do seu património histórico,
cultural, arquitectónico e natural.
Já
me foi dito que se nota que sou uma admiradora de José Alfredo, por
tê-lo mencionado já várias vezes no meu blogue. A verdade é que sim, sem
ter chegado a conhecer pessoalmente esta grande personalidade
sintrense, tenho vindo recentemente a descobrir o legado de crónicas,
reportagens e artigos que deixou publicado, ao longo de cerca de
sessenta anos, no Jornal de Sintra, e que posteriormente a Câmara
Municipal de Sintra publicou, numa compilação em sete volumes denominada
“Velharias de Sintra”, e sinto-me completamente fascinada pela obra,
trabalho de pesquisa e dedicação deste senhor. E acho que me identifico
com muitas das suas características biográficas, por isso lhe tenho
tanta simpatia e respeito.
José
Alfredo costumava terminar um capítulo de estudos sintrenses afirmando
que reconhecia não ter feito um trabalho perfeito (não há aqui falsas
modéstias) e fazendo votos para que tivesse despertado noutros o
interesse e desejo de fazerem melhor - “Seria para mim um grande prazer”,
conclui. Ora, longe de mim pensar “fazer melhor” do que a obra de José
Alfredo, não é isso a que me proponho. No entanto, muitas das suas
descrições foram redigidas ainda eu não tinha nascido e à data do seu
falecimento, apenas contava oito anos de vida. A minha curiosidade e
motivação estão, sim, em seguir as marcas dos passos que deu – uma nova
ronda pelo passado, algumas décadas depois.
Sou
de Sintra, mas pertenço ao Mundo, pelo que não tenho estado tão
presente (fisicamente) como gostaria. Desta última vez em que estive em
Sintra (inícios de Maio), aproveitei para visitar alguns lugares de que
José Alfredo fala nos seus livros.
Um dele, situa-se em São Pedro de Sintra, e a descrição que se segue (do autor) incitou-me a lá ir: «(...) este
recanto tão poético e silencioso onde, no Verão, gozando a frescura que
ele nos oferece, podemos passar umas horas agradáveis, lendo as páginas
de um bom livro e bebendo, de quando em vez, umas goladas de água
fresquíssima que a fonte nos oferece. Tenho a certeza de que muitos
sintrenses não conhecem este pitoresco cantinho da nossa terra.»
José Alfredo refere-se à Fonte Velha de São Pedro, a fonte mais antiga
do bairro de São Pedro de Sintra, anterior a 1823. Sigo as indicações
dadas e chego a um local com uma fonte, na calçada da rua do Rio da
Bica. A imagem apresentada no livro (desenho também de José Alfredo,
datado de 1921, em baixo) não corresponde totalmente ao que tenho à
minha frente, mas a mina mencionada no texto está lá e o candeeiro sobre
o muro de pedra é idêntico ao da gravura (tirando, obviamente, o
pormenor de ter sido vandalizado...). Também o “denso arvoredo (que) empresta ao local uma frescura que é de aproveitar em dias de canícula” faz-se notar.
No
entanto, penso que já não lhe seria tão agradável como outrora passar
aqui umas horas – o local tem, de certa forma, um aspecto desolado, um
amontoado de pedras construído e reconstruído, um candeeiro partido,
sons de tráfego rodoviário e máquinas de construção que nos chegam não
de muito longe... A água na fonte ainda corre, a insígnia CM bem
marcada, mas sem uma data...duvido, por vezes, se será a mesma fonte...
Confirmam-se
efectivamente as minhas suspeitas, não se trata da mesma fonte a que se
refere José Alfredo como a “ fonte mais antiga do bairro de São Pedro
de Sintra”. Algumas imprecisões dos mapas que utilizei induziram-me em
erro. As imagens acima são da fonte da Rua do Rio da Bica. Por outro
lado, a fonte antiga de São Pedro situa-se não muito longe desta,no
final do Caminho da Fonte de São Pedro, paralelo à Rua Visconde Faro e
Oliveira, e num gaveto circundado pela Quinta de São Pedro. Seguem,
então, abaixo, duas fotografias da verdadeira Fonte Velha de São Pedro.
Infelizmente, são também imagens que me deixam, de certa forma,
decepcionada, agora já não tanto pelos habituais actos de vandalismo que
se verificam por muitos sítios e monumentos do país, mas sobretudo pelo
evidente desleixo das entidades responsáveis pela recuperação e
preservação de locais de interesse histórico e arquitectónico. É triste
comparar as imagens (antigas e recentes) e comprovar a degradação e o ar
de abandono deste outrora recanto de inspiração poética...
Convido,
os que nisso tiverem interesse, a contribuir com alguma informação
adicional acerca das eventuais modificações nesta fonte, após os anos 20
do séc. XX e até à data actual. E termino dizendo que nunca é demais
lamentar os actos de vandalismo que se verificam constantemente e em
todo o lado. Nunca irei entender qual a satisfação que se tem ao quebrar
e destruir coisas sem qualquer razão, ódio, ou interesse para isso...
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