João
Cristino da Silva foi um pintor português da época romântica,autor duma
das obras mais emblemáticas da pintura romântica em Portugal:Cinco Artistas em Sintra, uma pintura de 1855 (Óleo sobre tela 87 X 129 cm) que representou Portugal na Exposição Universal de Paris de 1855 e onde se podem ver
os artistas Francisco Augusto Metrass atrás de Tomás da Anunciação, o
escultor Vítor Bastos tendo ao seu lado Cristino a desenhar e José
Rodrigues sentado.O único artista romântico não representado nesta obra
de arte foi o Visconde de Meneses.Foi comprada pelo Rei Consorte D.
Fernando II e actualmente faz parte do espólio do Museu do
Chiado.Cristino da Silva Iniciou os seus estudos em 1841 na Academia de
Belas Artes , onde mais tarde viria a ser professor e no período de 1847
a 1849,e estudou cinzelagem na oficina de lavrantes do Arsenal do
Exército.Em 1849 voltou a dedicar-se à pintura.Foi o primeiro pintor
português a dedicar-se à pintura da paisagem. Em Madrid expôs algumas
das suas obras, tendo sido condecorado pelo rei Amadeu. Ao longo dos
seus 47 anos de vida pintou mais de trezentos quadros,tendo acabado os seus dias no hospício de Rilhafoles, em virtude de ter enlouquecido.
Razões existem que são de
referir a propósito deste quadro de Cristino: em primeiro lugar, a sua
escolha do que podemos considerar, em tempos românticos como esses, um
“alto-lugar”, Sintra, que simbolicamente atravessa todo o nosso século
XIX (até naquilo que a partir do estrangeiro é reconhecido, por exemplo,
com Byron ou Beckford), de Garrett e toda a primeira geração romântica
até aos que serão chamados a geração de 70, encabeçados por Eça de
Queirós. Em segundo lugar, pela temática que institucionaliza o
cruzamento entre “o artista” (dimensão estética) com a paisagem de
Sintra (dimensão “natural” – e evidentemente estética e, por isso,
cultural).
Os
cinco artistas (Metrass, Cristino, Rodrigues, o escultor Vítor Bastos e
Tomás da Anunciação, aquele a que no interior do quadro está cometido o
acto de pintar, ao passo que os outros observam) encontram-se, em
termos de cenário, enquadrados pela serra de Sintra e pelo emblema que
nela constitui o Castelo da Pena que D. Fernando de Coburgo tornara sua
“particular” construção de arte. Será por este conjunto de elementos,
aliás, que José Augusto França considerará que, ao contrário do que em
termos genéricos se passa na pintura da época,que preferencialmente
alterna entre o “pintor de história” e o “pintor de retrato”,“Cristino
apresentará antes a imagem duma imagem: a imagem deles próprios ao
prepararem-se para produzir imagens – espécie de sonho colectivo que o
próprio autor sabia vão, numa sociedade, em, que ele via raivosamente
com as cores duma ‘Sibéria das Artes’ ” (idem, 815). A imprensa da época
reconhecia nele uma certa dimensão de excesso que o
distinguiria dos seus colegas de escola, todos eles profundamente
admiradores, aliás, de Anunciação. A essa dimensão de excesso (que não é
no entanto comparável àquilo a que o estilo sublime já desde o século
XVIII nos habituara em outras tradições pictóricas que não a portuguesa)
se atribui então a sua morte prematura , bem como os episódios de
loucura e internamento que a precederam, mas também o número e o tom
geral da obra pictórica produzida, “de um colorido ardente e por vezes
extravagante, quadros feitos quase todos em poucos dias, sem serem
estudados (...)”– e repare-se aqui na forma como ao “artista” se atribui
um excesso que não é entretanto dissociável de um estado de inspiração
(de um “fora-de-si”) que é responsável tentado pela extravagância como
pela sua brevidade e intensidade.
Trata-se, em toda a acepção, de um “artista romântico”. Também por altura da
sua morte, em 1877, o periódico O Ocidente o evoca como “talento
imaginoso, entusiasta, espontâneo, fácil e brilhante” (O Ocidente, 1877:
115).
Mas é ainda a partir do mesmo quadro Cinco Artistas em Sintra
que poderemos estabelecer outras conexões com aquilo que se passa no
domínio literário, precisamente pelo cruzamento entre a representação
artística (dos vários artistas) e a família de camponeses que a ela se
encontra associada– que nos permite justamente recordar o apontamento
de costumes, característico de parte da narrativa de feição
contemporânea,segundo Helena Carvalhão Buescu.
Para ver, no Museu do Chiado.
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