quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A sanha contra as árvores em Sintra



Vítimas dos elementos ou da mais iníqua moto-serra, as árvores de Sintra, discretamente alvo de podas e abates, têm de ser seriamente olhadas como património natural e como tal protegidas. Parte do cenário natural, frondosas e vetustas, há muito marcam as estações e os dias, floridas na Primavera, despidas no Inverno, acompanhando o tempo e o pathos de quem por elas passa, muitas vezes sem olhar. À sua sombra brincam crianças, descansam idosos, nidificam aves, serpenteiam insectos. Com elas, melhora o clima, aumenta a qualidade do ar, esbate-se o ruído.

As árvores reduzem a temperatura e aumentam a taxa de humidade.  Contribuem para a eficiência energética e ajudam a renovar o ar. Uma faia de 25m pode fornecer oxigénio para 10 pessoas. A folhagem reduz os aerossóis e poeiras. Sabiam que uma banda arborizada de 100m permite um aumento de 50% da humidade? E que uma árvore de 10m de altura transpira 130 litros de água por dia?

As árvores valorizam as propriedades e melhoram a harmonia dos espaços, solitárias ou em alameda, no esmerado jardim ou soalheiro quintal, marcam escalas, definem territórios e horizontes, protegem do sol e do frio,  são uma barreira visual e cobiça dos artistas.

Sitiadas, sofrem de expectáveis doenças e desamparados ataques, seja dióxido de enxofre ou ozono, monóxido de carbono ou azoto, peróxi-acetilnitratos ou pragas. E sofrem, quando plantadas em solos pobres em nutrientes, atacadas por herbicidas, feridas pelas infra-estruturas enterradas, contagiadas por microorganismos.

Estruturantes da imagem cénica e patrimonial, aumentam a qualidade de vida, merecendo quem lhes trate da porosidade, alimente com matéria orgânica, mate a sede ou vigie, com competente tutoragem. Frágeis e fortes, endémicas ou exóticas, são o bálsamo e a fragrância, a sombra e o refúgio, silencioso, tão silencioso que sem apelo se abatem vertendo lágrimas de seiva, culpadas de estar e perturbar, perturbar invasivos veículos, trazer improváveis alergias ou irritantemente espalhar as folhas.

Aqui e ali enfrentam o esquadrão da morte, e aos poucos despedem-se, substituídas por gélido granito, lápide fria sem direito a um epitáfio.

Breve chegará a Primavera, e com ela o inebriante odor da natureza. Replantar é preciso, espalhar o verde também. Se Sintra é a aristocrática senhora, as árvores são seu enfeitiçado perfume.
                Mais um plátano cortado, desta vez no Mucifal. A sanha continua...
                                                              Foto:Pedro Macieira

Tritão, uma revista digital


Foi lançada em Dezembro passado a Tritão - Revista de história, arte e património de Sintra ( http://revistatritao.cm-sintra.pt/ ) uma nova revista digital da autarquia com periodicidade semestral. Os primeiros artigos incluem uma breve sinopse da Colecção Municipal de Arte de Sintra e de uma das suas obras mais simbólicas, ou um olhar sobre quinhentos anos de arquitectura concelhia em Sintra.
Com um Conselho Redactorial  composto por Maria Teresa Caetano, Jorge de Matos e Jorge Pinto, esta nova publicação digital oferece ao leitor, para além de artigos científicos de temática sintrense, duas colecções de e-books  dedicadas a estudos sobre a história, arte e  património de Sintra: a e-sintra, resultado de um protocolo com o Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e a e-merito, que pretende disponibilizar obras publicadas pela autarquia que se encontrem esgotadas.
Dado um primeiro olhar sobre a mesma, saúda-se o aparecimento deste novo veículo comunicacional, que já tardava, sobretudo pela disponibilização de obras esgotadas, agora em formato digital, propondo que tal aconteça igualmente no futuro com textos como o foral de Sintra, as memórias paroquiais de 1758, a Vária Escrita, as Velharias de Sintra ou as obras de Francisco Costa e João António da Silva Marques, entre outros. Também o vasto espólio fotográfico existente, completado com imagens provindas de colecções particulares merece a perenidade e a divulgação exponencial que a presença no mundo digital propicia. Quanto à periodicidade, esta poderia ser menos dilatada, atento o facto de a edição online não carecer das verbas ou recursos que uma revista ou publicação em suporte de papel exigem. De qualquer forma, é com satisfação que se vê a gradual adesão do município ao hoje fundamental mundo da internet, permitindo a partilha e acesso a informação importante, que a Alagamares, por exemplo, já faz no seu site, e que o projecto da Selene-Culturas de Sintra igualmente desenvolve http://www.selene-culturasdesintra.com/ambos na esfera da sociedade civil e sem os recursos à disposição dos serviços municipais.

Um novo paradigma para a Cultura


Foi a 27 de Outubro de 2005 que foi assinada a Convenção de Faro, importante documento sobre o valor do património cultural na sociedade contemporânea e que entrou em vigor a 1 de Junho de 2011. Esta convenção nasceu no seio do Conselho da Europa, antecedida pelas convenções de La Valleta (1985), Granada (1992) e Florença (2000), e surgida a partir da experiência das Jornadas Europeias do Património. A sua grande inovação é o facto do património cultural ser constituído também pelo património imaterial e a sua relação com a sociedade contemporânea, tendo um cunho cívico e constituindo um factor de paz, entendimento e justiça, onde a iniciativa trás como indispensável a participação da comunidade científica e dos cidadãos e olha para o património como fomento de coesão social. Daí decorre um ponto de partida duma perspectiva onde as pessoas e não só o património edificado sejam factor essencial, naquilo que representam de criatividade e inovação.
Esta convenção põe em letra de lei o facto de ter deixado de fazer sentido a oposição entre uma visão centrada no património histórico, por contraponto à criação contemporânea. Pela primeira vez se reconhece que o património cultural é uma realidade dinâmica, envolvendo monumentos mas também as tradições e a criação contemporânea, e onde a diversidade cultural e o pluralismo têm de ser preservados contra a homogeneização e a harmonização. É o culminar de uma reflexão levada a cabo pela comunidade científica e pelo Conselho da Europa, desde os anos 70, em matéria de «conservação integrada» dos bens culturais e o passar da perspectiva do «como preservar o património», à questão do «porquê e para quem lhe dar valor?», como referiu Guilherme d'Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura. E esta ideia concretizou-se no entendimento segundo o qual o conhecimento e a prática respeitantes ao património cultural têm a ver, antes do mais, com o direito dos cidadãos participarem na vida cultural, de acordo com os princípios do Estado de Direito, conforme um conceito mais exigente de direitos e liberdades fundamentais. A Convenção considera, assim, o património cultural como um valor e um recurso, que tanto serve o desenvolvimento humano em geral, como concretiza um modelo de desenvolvimento económico e social assente no uso durável dos recursos, com respeito pela dignidade da pessoa humana. O património está pois, deste modo, na encruzilhada entre memória, herança e criação, visando a convenção prevenir os riscos do uso abusivo do património, desde a mera deterioração a uma má interpretação como fonte de conflitos. A cultura de paz e o respeito das diferenças obriga, no fundo, a compreender de maneira nova o património cultural como factor de  de compreensão e diálogo. Para defender, proteger ou preservar um testemunho ou um monumento há que considerar não só o valor histórico e patrimonial, mas também a relação que a sociedade tem com esse elemento.  Na relação com a História e com o património cultural há que assumir a herança histórica no seu todo, envolvendo os aspectos positivos e negativos. Na História remota, a memória é mais distante, mas quando se trata de acontecimentos recentes tudo é mais difícil. Como escreveu Guilherme d’Oliveira Martins,”O presente das coisas passadas é a memória; o presente das coisas presentes é a vida, e o presente das coisas futuras é a espera. A nossa relação com a Cultura apenas pode assim ser entendida a partir da História, das diferenças, da complexidade e do pluralismo, da responsabilidade e da capacidade criadora”. Eis o novo paradigma.

As associações e os tempos modernos


Pergunta-se se o modelo associativo como o conhecemos tem futuro. Terá se certos atavios forem debelados de forma enérgica.
Baluartes de resistência e cidadania durante o período do Estado Novo, as associações irromperam no pós Abril como cogumelos, sendo numericamente hoje mais de 40.000, distribuídas nas vertentes cultural, desportiva, sócio-profissional ou de solidariedade. Mas se ser associativista é uma forma de dizer que se quer estar activo como cidadão-actor em prol duma participação efectiva e do legítimo exercício da democracia cultural -na vertente de cultura para todos, e com todos -tal não impede que a mudança de paradigma que as novas solicitações da sociedade global e da informação impõe permitam e exijam que se ultrapassem algumas patologias.
A falta de formação de novos dirigentes, articulados com as realidades do tempo que passa e sem espírito corporativo, de imobilismo na preservação de lugares ou incapazes de congregar novas sinergias.
A eterna falta de verbas e da perspectiva de olhar para as associações sobretudo para a preservação da vertente patrimonial, das sedes e equipamentos, desenquadrada do fim último de congregar vontades, mobilizar opiniões, e gerar actos de cultura, desporto, etc
A prevalência do individualismo hedonístico, que desvaloriza o trabalho de equipa ou colectivo, em benefício das figuras, num estereótipo transmitido por um modelo de sociedade onde o Eu vence o Nós, mas de forma volátil, efémera e perversa.
A falta de investimento na inovação, e na ruptura com certas práticas, reproduzindo uma "cultura de corpo" estática, distanciada das necessidades para que muitas vezes essas associações foram criadas, facto espelhado nas múltiplas associações que apenas mobilizam para jogar o dominó ou assar o courato, mas deixaram de ter desporto activo, de produzir cultura da terra para importar cantores de moda efémeros e dissonantes, ou de se rever com o conjunto da população, num multiplicar por esse país fora de inúmeros Cinema Paraíso decadentes e ansiosos por revitalização.
A subsidiodependência, a suburbanidade de escolhas culturais, o divórcio com as forças mais dinâmicas das comunidades, e o espírito -há que dizê-lo- reaccionário e imobilista de certos dirigentes- fazem os pavilhões ás moscas, os teatros a cair de podres, os balneários sem água quente, tudo símbolos que ninguém quer herdar ou assumir, e logo de pouca atractividade.
É na subversão deste estado de coisas que o associativismo, com novos modelos de financiamento, com novos e empenhados dirigentes, de braço dado com as novas tecnologias e sob o desígnio de parcerias profícuas poderá singrar. Daí a necessidade de conjugar esforços com outras associações no sentido de criar elos de fortalecimento do movimento associativo cultural, em prol de mais Cultura com mais Organização e mais Capacidade e Alcance.
A experiência de 8 anos com a Alagamares, e as dificuldades na implantação da PAACS- Plataforma das Associações e Agentes Culturais de Sintra, mostram que a par de força e energia, há também muitas inércias que por vezes se anulam, fazendo deste um processo de paciência subsistindo apenas quando for firme a convicção nos resultados e activa a mobilização das vontades.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

História de Sintra 1910-1999

Uma cronologia elaborada por Fernando Morais Gomes a partir da leitura exaustiva da imprensa da época. Ver em

O primeiro presidente da Câmara de Sintra


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Máximo José dos Reis (n. Janeiro de 1769, filho de João Alberto dos Reis e Marianna Rita de Jesus Luís, falecido a 2 de Maio de 1849 em Sintra) foi o último Capitão-Mor de Sintra e Colares a desenvolver em plenitude as suas funções entre Agosto de 1813 e Junho de 1828 e o primeiro Presidente (da Câmara Municipal de Sintra) eleito do novo regime Constitucional estabelecido após a vitória liberal de 1833 e a aclamação de D. Maria II. Exerceu o mandato de presidente da Câmara até ao dia 4 de Janeiro de 1836. Apesar de pessoa discreta e regrada, Manuel Pinheiro Chagas, na sua História de Portugal denominou–o de «opulentíssimo»

Foi um grande proprietário rural e urbano, e possuidor das Quintas dos Pisões, Penha Longa, da Alegria ou Seteais, do Rio do Porto, do Ano Bom, da Portela e diversos edifícios na vila de Sintra, como o, ainda em funcionamento, Hotel Lawrence, tão ao gosto de Eça ou Byron. Nessas quintas desenvolveu uma grande actividade como produtor de laranjas e outros "frutos de espinho", que exportava para Inglaterra e França.

Máximo dos Reis cedo se destacou pela sua capacidade de iniciativa e disponibilidades financeiras, ajudando frequentemente os cofres do Real Erário em períodos de escassez de recursos e adquirindo, desde 1796, apólices da dívida pública. Contribuiu, durante as invasões francesas, com 120$000 reis anuais para o exército português, e frequentemente, abonou do seu bolso o magro cofre da Câmara Municipal de Sintra para fazer face a todo o tipo de despesas, nomeadamente de assistência aos expostos.

O seu casamento com D. Maria do Rosa do Carmo ocorreu, a 19 de Fevereiro de 1800, na Igreja de S. João Degolado da Terrugem. A noiva era filha do empreiteiro de obras públicas mestre canteiro Domingos Pereira e de sua mulher Maria Joaquina. Faleceu Nos Paços Reais de Sintra a 19 de Fevereiro de 1817 na sequência de problemas pós-parto no dia de aniversário de casamento.A propósito da mulher do Capitão-Mor  um excerto de um artigo de Sousa Viterbo publicado em 1908 no Arquivo Histórico Portuguêz :

“Máximo José dos Reis era natural do Linhó, pequeno lugarejo próximo de Sintra, e da freguesia de S. Pedro da mesma vila. Muito novo foi para Sintra para ser caixeiro na loja, que hoje pertence a Jerónimo Ignácio Cintra. Casou depois com uma senhora de nome D. Maria Rosa do Carmo Pereira, do casal da Asneira, no lugar de Vila Verde, freguesia da Terrugem, do concelho de Sintra. Desse casamento houve quatro filhos, o 1. ° e o último meninas e o 2. ° e o 3. ° varões, morrendo de parto a mãe, pouco depois do nascimento da última filha. Foi essa senhora sepultada na igreja de S. Martinho da vila de Sintra, em sepultura que tinha o n. 9, sob a condição, imposta pelo capitão-mor e recomendada ao velho sacristão, de que dali não sairia senão para o jazigo, que seu viúvo ia mandar construir no cemitério de S. Sebastião, daquela vila, estabelecido no terreno de um seu pequeno casal desse nome, e que ele cedera à autoridade competente de então, sob a clausula de que esse seu jazigo ali se conservaria perpetuamente, o que se não dá presentemente, porque esse terreno foi já profanado, e nele vão construir a cadeia da vila! - A respeito do cadáver desta senhora deu-se um triste episódio, que é relatado do seguinte modo: havendo por esse tempo as lutas civis da liberdade, e sendo chamados às armas todos os mancebos aptos para esse serviço, a fim de formarem o batalhão nacional, o antigo sacristão Henrique José de Oliveira teve de partir para Lisboa para se alistar naquele batalhão já na sua ausência o coveiro da igreja de S. Martinho, sabendo que não havia nessa igreja nenhum coval vazio, abriu, por maldade ou estupidez, a sepultura n. 9, onde jazia o corpo de D. Maria Rosa do Carmo Pereira dos Reis, e, encontrando-o ainda intacto, tirou-o para fora, e, amarrando-lhe uma corda ao pescoço, o puxou, de rastos pelo pavimento da igreja, saindo a porta principal, indo deposita-lo na casa dos ossos (ossário) ao lado esquerdo da igreja, pequeno compartimento, muito arruinado, que ainda hoje ali se vê. Máximo José dos Reis, sabendo deste triste incidente, e como era já então autoridade em Sintra, mandou chamar, de Lisboa, o sacristão Henrique de Oliveira, censurando-o da incúria em não cumprir as suas ordens e encarregando-o de averiguar da veracidade do caso, que, sendo confirmado, o levou a mandar prender o coveiro, que foi processado e condenado. O cadáver de D. Maria Rosa voltou para a sua sepultura, e só de lá saiu muito mais tarde para o jazigo no cemitério de S. Sebastião”

Máximo José dos Reis, não tinha estudos superiores, mas mesmo assim foi nomeado pela Junta Governativa do Concelho de Sintra em Junho de 1846 - após a revolta da “Maria da Fonte” - Juiz de Direito Interino. A Junta demitira o Juiz da Comarca Morais e Sousa que tinha participado na falsificação dos votos entrados nas urnas e “…era um dos mais salientes estorquidores do dinheiro do Povo…”.

O Sargento-Mor Policarpo de Fontes, preterido na corrida para Capitão-Mor em Janeiro de 1812, foi quem mais se movimentou contra Máximo, conseguindo o seu objectivo em 1828 no advento do miguelismo, e sendo nomeado Capitão-Mor depois de uma luta de 16 anos para conseguir o ambicionado cargo. No entanto, foi sol de pouca dura, pois algo de grave terá sido descoberto pela donatária da vila de Sintra, a rainha-mãe D. Carlota Joaquina, que não se inibiu de o demitir em Maio de 1829, menos de um ano depois da posse; “que por justos motivos dignos da Sua Real Consideração e por não convir a Seu Imperial e Real Serviço houve por bem demitir do posto de Capitão-Mor das Ordenanças desta vila a Policarpo Joaquina de Fontes”. Terá nisso pesado o facto de Máximo José dos Reis ser compadre e grande amigo do almoxarife do Ramalhão João dos Santos, homem de total confiança (e não só…) da dita senhora?

Quanto à Quinta dos Pisões, Máximo adquire-a em hasta pública em 1810 depois de uma execução movida a António Valeriano de Souza Prego, Manuel Joaquim de Souza Prego e sua mulher D. Ana Justina de Freitas (a quem Máximo compra em 1811 as casas e quinta do Campo Semite de Seteais, num processo litigioso onde também participam Francisco Pedro de Souza Prego e Fernando Arsénio de Souza Prego).Em 1828, dois dos filhos que consigo aí viviam tiveram destinos trágicos. O filho mais velho, suicidou-se num tanque. O mais novo, estudante em Coimbra, entrou num atentado promovido por um grupo liberal chamado os "Divo dignos" contra uma diligência que trazia a Lisboa professores daquela cidade para um beija-mão a D. Miguel, de que resultaram mortos e a prisão do mesmo, Domingos Joaquim de seu nome. Consta que preso e tendo pedido ajuda a seu pai, o mesmo recusou achando que o filho deveria pagar pelos seus actos, o que terá motivado uma maldição do filho contra a família e o seu património.

Lenda ou coincidência, o certo é que morto o último capitão-mor de Sintra em 1849,a Quinta por falta de descendentes directos acabou na posse dum William Galway que morreu internado num manicómio nos Estados Unidos. Um filho deste acabou por vender os Pisões que assim foram parar a estrangeiros e fora da família.

A Quinta do Cosme

Juan Francisco Affaitatti, de Cremona, fixou-se em Lisboa no final do século XV, ligado ao tráfico negreiro, ao comércio do açúcar da Madeira e às especiarias. Foi armador da segunda frota que foi à Índia em 1502, e nos primeiros anos actuou como espião de Veneza informando-a dos descobrimentos portugueses. Entre 1508 e 1514, a troca de um contrato de pimenta, ficou obrigado a pagar as despesas das praças militares de África, das Casas da Suplicação e do Civil.

As suas origens são obscuras. Segundo alguma bibliografia, seria filho natural ou irmão do conde Ludovico de Cremona. Por sua vez, o conde de la Vauguyon afirma que o biografado era filho de um modesto negociante lombardo. Existiam mesmo rumores de existir sangue judaico nos Affaitati.A partir de Juan Francisco, encontravam-se entre as proles de mercadores que controlavam as rotas comercias entre o sul e o norte da Europa, sendo pioneiros no comércio de pedras preciosas. Antuérpia era a sede desses negócios que se disseminavam por outros focos mercantis europeus. Foi ainda no decorrer do século XV que João Francisco Affaitati se estabeleceu em Lisboa. Tinha a missão de informar Veneza sobre os resultados das expedições ultramarinas portuguesas, mantendo, assim, uma estreita relação com os representantes da Sereníssima na capital portuguesa, nomeadamente com Pietro Pasqualigo. Quando a frota de João da Nova regressou da Índia, Affaitati escreveu, com data de 10 de Setembro de 1502, uma carta a Pasqualigo, então em Madrid.
Nesse mesmo ano, Affaitati armara uma das naus que partiram rumo à Índia, acompanhando a segunda armada de Vasco da Gama. O seu feitor Matteo di Bergamo seguia nessa nau. Esta viagem foi-lhe particularmente lucrativa segundo revela numa carta escrita a 14 de Setembro de 1503 e dirigida a Domino Lucha e aos seus irmãos em Cremona: “de nostra parte sempre haveremo tante spiziarie vellerano zercha ducati 5000, et lo capital fo ducati 2000, pocho piú [...]”.
Dedicado ao comércio de especiarias, estabeleceu negócios com os cristãos-novos Francisco e Diogo Mendes. Entre 1508 e 1514, os Affaitati e os Gualterrotti, por concessão de D. Manuel, tinham o monopólio da venda de especiarias nos Países Baixos, período durante o qual fizeram contratos no valor de 117 004 880 réis. Juntaram-se a esse contrato outros mercadores italianos, os Fugger e os Welser. O sobrinho Gian Carlo Affaitati e o genro João Carlos Doria eram os seus representantes em Antuérpia.
A 10 de Junho de 1513, D. Manuel renovou por mais um ano o contrato em que Affaitati se comprometia a comprar dois mil quintais de pimenta, por ano, à coroa. Segundo um outro alvará desse mesmo ano, o mercador encontrava-se obrigado a carregar a pimenta para o Levante sem poder vendê-la em Lisboa. Em 1525, João Francisco assinou um contrato com o rei sobre a compra de 13 mil quintais de pimenta a 34,25 cruzados o quintal, 400 quintais de cravo a 50 cruzados, 700 quintais de canela a 65 cruzados e 2 mil quintais de gengibre a 30 cruzados.
Affaitati negociava também no açúcar da Madeira. Em 1502, em conjunto com Jerónimo Sernigi e João Jaconde arrematava trinta mil arrobas de açúcar destinadas a Águas Mortas, Livorno, Roma e Veneza. Dois anos depois, celebrava um contrato para a compra de 3500 arrobas e, em 1512, um novo contrato para a compra de seis mil arrobas de açúcar. Passados quatro anos, arrematava os quintos e os dízimos sobre o açúcar branco, contratos que repetiu em 1518, 1520 e 1521, estes dois últimos anos em parceria com Janim Bicudo. Entre 1502 e 1529, comercializou 177907,5 arrobas de açúcar da Madeira, notabilizando-se como o maior negociante desta mercadoria durante aqueles anos.
A sua fortuna e os seus negócios tornaram-no credor da coroa. Em 1509, o rei ordenava que lhe fossem entregues 8283 arrobas e 5,5 arráteis de açúcar em pagamento de diversas dívidas. Num mandado de 28 de Abril de 1528, a rainha ordenava que se pagasse a Affaitati 512400 réis que tinha em dívida.
Dada a prosperidade dos seus negócios, desfrutava de uma posição social privilegiada, similar à dos florentinos Sernigi e Marchionni. Foram-lhe mesmo confiados privilégios semelhantes aos que tinham os mercadores alemães.
O prestígio da família continuou com os seus descendentes. Após a sua morte, quem ficou a representar os interesses dos Affaitati em Portugal foi o genro e sobrinho, João Carlos Dória, o qual se casara com a sua filha Lucrécia. Em Carvalhal do Bombarral, construiu um solar conhecido por Solar da Quinta dos Loridos .
Nunca se chegou a casar, embora lhe sejam conhecidos seis filhos: Cosme, Agostinho, Inês e Madalena Affaitati, filhos de Maria Gonçalves, cristã-nova e fanqueira; Lucrécia e Antónia Affaitati, filhas de Branca de Castro, cristã-nova de Setúbal.
Através dos enlaces matrimoniais dos seus filhos, Affaitati consolidou a sua rede de influências e a sua posição social. Cosme e Agostinho Affaitati, casados com D. Maria de Vilhena e D. Maria de Távora, e de Inês Affaitati, esposa de D. Leonardo de Sousa. Agostinho foi trinchante-mor de D. João III.
Cosme, aportuguesado Lafetá, será o comandante das forças portuguesas na tomada do morro de Chaul, na Índia, em 1540. Francisco de Andrade, nos Comentários, apresenta-o como «general da nossa gente de guerra em tôda a costa do Norte com muitos poderes, que o Viso-Rei lhe dera, um fidalgo de grande ânimo e conselho chamado Cosmo de Lafetar"
Cosimo Affaitati, por volta de 1540 também, construiu no sopé da Serra de Sintra, junto a Colares, um palácio renascentista, numa altura em que  havia já adaptado o apelido de Lafetá. Quem de Galamares siga para Colares, na estrada nacional, quinhentos metros depois encontra um sítio a que os locais chamam Quinta do Cosme( foto abaixo).Cosme era Cosimo, e o palazzo jaz em ruínas, apenas restando uma fachada consumida pelo tempo,  classificada como de interesse concelhio mas ao abandono. Quando forem até à praia, detenham-se um pouco e recuem quatrocentos anos, e aí poderão imaginar Juan Francisco e Cosimo Affaitati, ou Lafetá.
                                                    Quinta de Cosimo, foto Pedro Macieira

Recordar Milly Possoz

Filha de pais belgas, Mily Possoz nasceu em Lisboa a 4 de Dezembro de 1888. Após estudos de pintura com Emília Santos Braga e com o aguarelista espanhol Enrique Casanova, em 1905 parte para Paris, onde estuda na Académie de La Grande Chaumière. Finda esta primeira estada parisiense, viaja pela França, Bélgica, Alemanha e Holanda, desenvolvendo estudos de gravura, nomeadamente em Bruxelas e Düsseldorf. De regresso a Portugal, em 1909 começa a integrar as exposições colectivas dos modernistas e a organizar exposições individuais do seu trabalho.
Nos anos 20 inicia colaboração com a imprensa, nomeadamente com a ABC e a Athena, trabalhando como ilustradora,
A gravura será, aliás, a via que mais explorará como artista, sobretudo durante os anos em que se encontra fora de Portugal. Com efeito, na segunda estada parisiense, iniciada nos anos vinte, tornar-se-á membro activo da sociedade Jeune Gravure Contemporaine, criada nessa cidade em 1929. Amiga do artista japonês Tsuguharu Foujita (1886-1968 ) , com ele estabelecerá alguns jogos plásticos, evidentes em algumas das suas litogravuras e pontas-secas. Influenciada portanto pela estética depurada da gravura japonesa, mas não escamoteando outras correntes a que vai também claramente beber, como o surrealismo, a obra de Mily Possoz sintetiza várias gramáticas que ela serve com um gesto poderoso, seguro, certeiro.
Em 1937, a sua participação na exposição de Gravura Francesa, realizada em Cleveland, nos Estados Unidos, garante-lhe a medalha de ouro e a aquisição de obras suas para o Museu de Cleveland. Nesse mesmo ano regressa a Portugal.
Em 1940, encontramo-la entre o vasto leque de artistas modernistas convidados para a decoração dos pavilhões da Exposição do Mundo Português. Ainda nesse ano, com a criação pelo SNI dos Bailados Verde-Gaio, Bailados Portugueses, colabora como figurinista.
No decorrer dos 40, muda-se para Sintra, onde passa a viver, dedicando-se então sobretudo à pintura a óleo, elegendo essa paisagem como motivo preferencial, e à aguarela que exercita sobretudo no retrato. Será também nessas paragens que, em 1957, conhecerá o coleccionador de arte Machaz, que lhe encomenda vários quadros para a decoração do Hotel Tivoli. Em 1956, colabora também com a Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses — Gravura.
Morre a 17 de Junho de 1967.Raquel Henriques da Silva escreveu sobre ela,e alguns temas de Sintra podem ainda ser vistos em sites na net,numa perspectiva modernista e surrealista por vezes.Uma figura a recordar.

Tomé de Barros Queiróz na História de Sintra

                                              Tomé de Barros Queiróz
Em Sintra, a 5 de Outubro de 1910, o directório do Partido Republicano Português designou Tomé de Barros Queiróz, figura de destaque na época e ligado a Sintra, onde tinha um chalet, para proceder à sua proclamação solene. Barros Queiróz havia chegado a Sintra em meados de Setembro, vindo de férias nas termas, e aqui recebeu a notícia da morte de um dos chefes da revolta, o Dr. Miguel Bombarda. Confirmado o sucesso do movimento militar, Barros Queiróz foi  convidado pelo PRP para proclamar a República em nome da Junta Revolucionária, tendo sido designados para o acompanhar nesse momento histórico o jornalista João Chagas,  bem como José Barbosa e Malva do Vale. Foi assim que um grupo de apoiantes do novo regime se concentrou junto com Barros Queiróz num local onde hoje fica a Praça Afonso de Albuquerque para esperar os outros enviados do PRP. Alguns deles, armados, inclusive já desde alguns dias guardavam residências de políticos e figuras destacadas do regime monárquico, entre as quais a de João Franco, que veraneava em Sintra com a família real, e que tinha sido um dos protagonistas do odiado governo que em 1908 custou a vida ao rei D.Carlos, e que agora, paradoxalmente, era protegido na sua pessoa e bens pelos revolucionários, para evitar pilhagens e actos de vandalismo. Entre os que protegeram João Franco em Sintra contava-se o filho de Barros Queirós, Daniel, com 19 anos na altura, sendo que João Franco, apesar do reviralho que se adivinhava, mandou servir comida e café aqueles que se preparavam para alterar o regime que ele servira.
Estavam os populares reunidos quando chega um dos poucos carros que havia naquele tempo, ostentando uma bandeira verde rubra, ao que os populares responderam com vivas à República. Nessa viatura vinha uma eufórica senhora de apelido Quaresma Val do Rio Barreto.Passado um tempo, uma outra viatura, aberta, transportava duas figuras vestidas de escuro . Eram a rainha D.Amélia e uma camarista, que vindas da Pena, se dirigiam a Mafra a juntar-se ao deposto rei D.Manuel, de onde partiriam posteriormente em direcção a Inglaterra. Barros Queiróz, reconhecendo a rainha, tirou o seu chapéu, e silenciando os vivas à República, saudou com cortesia a real figura, no que foi acompanhado pelos demais. Revoluções à portuguesa, dirão alguns…
Finalmente chegou o grupo vindo de Lisboa, e todos se dirigiram à varanda dos Paços do Concelho (os actuais, que haviam sido inaugurados um ano antes, em 1909, e proclamaram solenemente a República Portuguesa, tendo na altura sido anunciados Formigal de Morais como presidente da Câmara Municipal de Sintra e Gregório Casimiro Ribeiro como administrador do concelho. Todo o dia foi de festa em Sintra, tendo uma banda de música percorrido a vila em clima de euforia júbilo.
Tomé de Barros Queiróz foi deputado, Ministro das Finanças, Ministro da Instrução Pública e Presidente do Conselho de Ministros e membro da Maçonaria. Nascido em Quintãs, Ílhavo, filho de modestos lavradores, veio muito cedo para Lisboa, começando a trabalhar aos 8 anos como caixeiro numa casa comercial. Apenas na década de 1890 conseguiu matricular-se na Escola Elementar de Comércio de Lisboa. Em 1888 tornou-se militante do Partido Republicano Português, ascendendo rapidamente a lugares cimeiros na direcção daquele partido. Envolvido nas lutas operárias, foi um dos promotores da criação da Associação dos Caixeiros Nocturnos de Lisboa, ligando-se por essa via à imprensa, sendo fundador de A Voz do Caixeiro e colaborando no periódico O Caixeiro.
Eleito em listas republicanas foi, entre 1908 e 1911, presidente da Junta de Freguesia de Santa Justa e vereador da Câmara Municipal de Lisboa. Como referido, foi ele quem proclamou a República em Sintra em 5 de Outubro de 1910.Representou Sintra na Assembleia Constituinte que elaborou a Constituição de 1911, ao ser eleito deputado por Torres Vedras nas primeiras eleições após o 5 de Outubro, pois esse círculo englobava Torres Vedras, Lourinhã, Sintra e Cascais, entre outros locais, tendo obtido 7609 votos.
Com a cisão do Partido Republicano Português após a proclamação da República Portuguesa, integrou o Partido Unionista, onde militou entre 1911 e 1919. Foi também secretário-geral e director-geral da Fazenda Pública, cargo em que foi o principal autor da reforma tributária de 1911. Como deputado por Torres Vedras, no mandato de 1911 a 1915, foi escolhido para vice-presidente da Câmara dos Deputados, apresentando então um parecer, à época considerado excepcional, sobre a Lei de Meios de 1912-1913 (o orçamento do Estado à altura).
Em 1912 iniciou-se na Maçonaria, na loja Acácia, de Lisboa, adoptando o nome simbólico de Garibaldi.
Na sequência da revolução de 14 de Maio de 1915, aceita o lugar de Ministro das Finanças, cargo que exerceu até 18 de Junho de 1916.
Mantendo-se na actividade política, já em período de degenerescência da Primeira República voltou ao Governo no período entre 24 de Maio e 30 de Agosto de 1921, como presidente do Conselho de Ministros (o título do Primeiro Ministro da época), acumulando com a sua antiga pasta das Finanças. O seu curto mandato à frente do governo português ficou marcado pela profunda crise financeira do Estado e por uma tentativa desesperada de recorrer ao crédito externo, através da contracção de um empréstimo de 50 milhões de dólares na América. Este empréstimo, anunciado como salvador pelo líder republicano Afonso Costa, acabou por não se materializar. Em 1922 foi eleito deputado pelo círculo açoriano da Horta, reingressando nesse mesmo ano pelo círculo de Lisboa, mantendo-se no parlamento até 1924. A partir de 1923 passou a militar no Partido Nacionalista. Faleceu em Lisboa a 5 de Maio de 1926, já em pleno ano final da Primeira República Portuguesa de que fora um dos fundadores.
A ligação de Tomé de Barros Queiróz a Sintra vinha já de antes do 5 de Outubro, pois aqui adquiriu um chalet na antiga avenida Alda, no final da actual Av. Heliodoro Salgado, onde tinha por vizinho Henrique Santana, pai do grande actor Vasco Santana, que contava na altura 12 anos, e vivia com uma senhora espanhola chamada D.Pepa. Sendo a casa de Barros Queiróz de 6 divisões e a de Henrique Santana de 12, e tendo Barros Queiróz 4 filhos, fizeram uma permuta de casas, instalando-se Barros Queiróz no popularmente designado “Chalet Nabo” pela forma de nabo em que terminava a cúpula aí construída precedida duma escada de caracol. Nesse local se realizaram muitas tertúlias e encontros.Em 1913, sendo Estevão de Vasconcelos Ministro do Fomento, intercedeu Barros Queiroz para o arranjo urbanístico do local onde hoje está o jardim da Correnteza.
Depois da sua morte, em Maio de 1925,a Câmara Municipal de Sintra presidida pelo então presidente da Comissão Administrativa, capitão Craveiro Lopes (futuro Presidente da República) inaugurou uma rua com o seu nome, no 5 de Outubro de 1926,cerimónia que contou com muitos vultos nacionais bem como locais, dos quais se destacavam o dr.Virgílio Horta e Eduardo Frutuoso Gaio. Uma coincidência haveria de ocorrer mais tarde durante a recuperação urbanística da Correnteza que ele em 1913 preconizara: os candeeiros de iluminação pública aí ainda hoje existentes, viriam a ser adquiridos numa loja da família Barros Queiroz no Largo de S.Domingos, em Lisboa. Pode pois dizer-se que por diversas formas, a Correnteza é a Correnteza de Barros Queiróz
                          

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A classificação do eléctrico de Sintra- actualização


Como é sabido, foi recentemente publicitado na segunda série do DR o arquivamento do procedimento de classificação da linha de eléctricos de Sintra.
Nesse despacho
http://dre.pt/pdf2sdip/2012/12/251000000/4090740907.pdf
assinado pela directora-geral do Património Cultural, é indicado que o arquivamento foi decidido com base num parecer aprovado em Novembro pela Secção do Património Arquitectónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura. De acordo com esse parecer, "muito embora o bem em apreço constitua valor de referência para o município de Sintra, enquanto elemento distintivo das vivências locais há mais de um século, não reúne os valores patrimoniais inerentes a uma distinção com valor nacional".
A partir de agora, o troço Ribeira/Praia das Maçãs da antiga linha de eléctricos de Sintra deixa de estar em vias de classificação, deixando igualmente de ter uma zona de protecção de 50 metros a contar dos seus limites externos, acrescenta o documento. Os interessados poderão reclamar ou interpor recurso tutelar do acto que decidiu o arquivamento deste procedimento de classificação.
Depois de durante vários anos se ter obrigado os proprietários ou requerentes de pedidos de uso ou transformação do solo num raio de 50m para cada lado da linha e no seu troço a obter parecer vinculativo, moroso e anacrónico, o processo acaba assim no caixote. Convém porém reflectir um pouco sobre os argumentos utilizados, e perguntar: quantos eléctricos semelhantes há pelo país, fora de zonas urbanas e que atravessem uma zona património mundial como este? Será este um primeiro passo para, sem a protecção duma classificação, o mesmo vir a acabar de vez, permitindo a expansão descaracterizada e a desvalorização cénica do percurso??
Independentemente do juízo de valor sobre o actual modelo de gestão e utilização do eléctrico de Sintra, por vezes demais interrompido e sem sequência e regularidade para impor um estilo e uma rotina, ou mesmo complementaridade com outros programas turísticos, estando o processo há muitos anos em vias de classificação, estranha-se agora a decisão tomada, ao arrepio de todo o historial e sem que nenhum facto novo e relevante leve a tal decisão. A Alagamares, no âmbito do direito ao contraditório, fez uma reclamação escrita junto da DGPC, e igualmente lançou uma petição pública na Internet,
a qual nesta data passou já as 416 assinaturas, aguardando pela resposta dessa entidade à missiva enviada, por correio e mail.
Chega-nos agora a informação de que a Câmara Municipal de Sintra se prepara para declarar a linha como de interesse concelhio, o que já há muitos anos deveria ter ocorrido, aliás. Efectivamente, como pode pretender-se que algo tenha uma dignidade nacional quando localmente ainda lhe não tinha sido atribuída essa dignidade e valia?
Ainda não desistimos de ver a DGPC arrepiar caminho, mas a decisão da CMS deixa ao menos o conforto de o nosso apelo ter sido ouvido e algo estar a ocorrer.
Recorde-se que também há não muito tempo o edifício dos paços do concelho foi remetido para a dignidade meramente local, o que leva a questionar a sensibilidade cultural de quem decide lá para os lados do palácio da Ajuda.

Entrevistas no Sintra Canal




O Sintra Canal é um dinâmico e pioneiro projecto de web tv lançado no concelho de Sintra, sucessor da Saloia TV e hoje englobado na Plataforma Portugal Real. Habituado a ver os eventos da Alagamares frequentemente divulgados nesse espaço, a partir de Fevereiro de 2012, e após um convite de Guilherme Leite, seu mentor e grande alma do projecto, o presidente da Alagamares, Fernando Morais Gomes, passou a ter um espaço quinzenal de entrevistas, em torno de temas culturais, sobretudo tendo por fundo as realidades diversas e diversificadas deste concelho, o 2º do país mas em muitas das suas actividades e das suas gentes desconhecido. O programa, “No Outro Lado do Monte da Lua”, realizou já entrevistas com figuras de relevo no concelho de Sintra, e na cultura em geral, de que destacamos alguns:

Entrevistado por Guilherme Leite, em

Entrevista com Jorge Menezes, poeta e tradutor, Filomena Oliveira, encenadora e Fernando Sousa, da Amnistia Internacional Sintra


Entrevista com Ruy Oliveira, sobre a cultura saloia, e Luis Galrão e Pedro Macieira, sobre blogues de Sintra


Entrevista com   Nuno Vicente e João Vicente, actores e encenadores


Entrevista com Miguel Anastácio, director artístico do Sintra Estúdio de Ópera, fundado em 2005, e que inclui, entre outros, o Ensemble Barroco e a Orquestra de Câmara de Sintra.


Entrevista com Raquel Ochoa, escritora residente em Sintra, autora de "O Voo dos Outros "(2008) "A Casa Comboio"(2009, Prémio Agustina Bessa Luís) e de biografias do cantor Bana e de D.Adelaide de Bragança, e hoje já um valor emergente no panorama literário nacional.


Entrevista com a escritora Filomena Marona Beja


Entrevista com o encenador João Mello Alvim- 2 partes



Entrevista com os poetas Filipe Fiúza e Diogo Godinho