quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Arquitectos de Sintra:José Luís Monteiro


O Chalé Biester, na Estrada da Pena, mandado construir por Ernesto Biester, um comerciante de cortiça de origem alemã e radicado em Portugal, foi projecto do arquitecto José Luís Monteiro, nascido em Lisboa, em 1848, e autor, entre outros,  do chalet Palmela, em Cascais, ou da Estação do Rossio, bem como do decorador Luigi Manini (encenador do Teatro de São Carlos e autor da Quinta da Regaleira), que souberam das ao conjunto uma harmonia e qualidade desusadas, quer ao nível da própria arquitectura e decoração, quer no que se refere ao pleno enquadramento paisagístico. O gosto pelos chalets (arquitectura característica das regiões altas da Europa Central e do Norte) nasceu em Portugal, no último quartel do século XIX, como paradigma anacrónico de vilegiatura, e teve em Sintra e no Estoril exemplares notáveis, de que este é um deles, tendo nos últimos anos inclusive servido de cenário a filmes como “A Nona Porta” de Polanski.
José Luís Monteiro, arquitecto de nomeada, deixou aqui uma marca clara, destacada na sua vasta e prolixa carreira: participou em 1878 na Exposição Portuguesa no Campo de Marte, em Paris, com o seu mestre Pascal, e a 28 de Novembro desse ano foi diplomado arquitecto, tendo trabalhado na Câmara Municipal de Lisboa entre 1880 e 1882. Construiu o carro da cidade de Lisboa no Centenário de Marquês de Pombal, e construiu um pavilhão no Terreiro do Paço, para as comemorações do centenário de Camões, sendo considerado o introdutor do trabalho em ferro forjado, em Portugal (a nave central da estação do Rossio é disso exemplo)
Entre as suas obras contam-se: a decoração do edifício da Câmara Municipal de Lisboa (1887-1891) (portões em ferro forjado, na fachada; desenho dos fogões de mármore de Carrara, do Salão Nobre; concepção do brasão da cidade, na Sala das Sessões Privadas; grade de ferro forjado e mobiliário, da Sala do Arquivo); os candeeiros do Monumento aos Restauradores da Independência, na Praça dos Restauradores (1886); diversos coretos para o Jardim de São Pedro de Alcântara e Avenida da Liberdade; o Quartel do Batalhão de Sapadores Bombeiros (1892); o projecto do Liceu Passos Manuel e do Parque Eduardo VII (em colaboração com Frederico Ressano Garcia); a igreja Paroquial de Nossa Senhora dos Anjos; o Hotel Avenida (Hotel Avenida Palace pelo menos desde 1933); o projecto da Casa Conde Castro Guimarães, antigo Palácio do Thorel, ou o Salão Portugal, da Sociedade de Geografia de Lisboa
No Chalé Biester colaborou igualmente mestre Costa, tendo por encarregado de carpinteiros o seu sobrinho Carlos da Costa Soares, ambos de Sintra. Este último, quando aquele se impossibilitou por doença, substituiu-o como mestre da obra até final. Os estuques são de Domingos Antonio da Silva Meira; a escultura em madeira de Leandro Braga e a pintura decorativa de Luigi Manini, excepto o arauto que se vê na entrada que é de Baeta, também distinto pintor. A guarnição de ferro forjado da grande chaminé da sala de jantar é de José da Quinta, artista serralheiro.
Monteiro fez no local coexistirem harmoniosamente elementos de diversos estilos arquitectónicos e decorativos. No alçado principal, à direita, ergue-se uma torre circular, rasgada por longas janelas neo-góticas e coroada por um telhado cónico. O acesso principal ao edifício é marcado pela existência de um alpendre. No interior da galilé, abrem-se dois arcos divididos por uma graciosa coluna. O alpendre é encimado por uma varanda, na qual surgem dois arcos idênticos.
Nos interiores, Manini revestiu amplos espaços com frescos, cuja temática acaba por ser uma amálgama de gótico flamejante e das novas tendências que despertavam na época. Assim, deparamos com pinturas de temática medieval, mas de realização Arte Nova.
Em todas as divisões, sobre um fundo uniforme (beije no átrio, cinzento nos salões, verde e azul na capela), encontram-se reproduzidos - com o auxílio de um escantilhão -  múltiplos e variados motivos: flores, ramagens. diversos desenhos geometrizantes, figuras várias.
Neste contexto, ao cimo de uma bonita escadaria neo-gótica, um "hall" é bem o exemplo da amálgama estética que já se salientou: nas paredes laterais, duas figuras, uma jovem vestida de mousselina branca e um bravo cavaleiro, aparecem frente a frente, de forma teatral; na parede frontal, vê-se o cúmplice cúpido. Estas figuras estão enquadradas por uma profusa ramagem, contendo certos elementos neo-clássicos.



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