sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Wenceslau Cifka, um checo em Sintra


 
Wenceslau Cifka, boémio nascido em Tscheraditz, hoje República Checa, em 1811, terá chegado a Portugal por ocasião do casamento de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha com a Rainha D. Maria II, como uma espécie de conselheiro de arte, devido aos seus conhecimentos de arqueologia e obras de arte, tendo adquirido preciosas colecções para a galeria do Rei.
Dedicou-se a diversas actividades artísticas, sendo a primeira como fotógrafo, tendo sido um dos pioneiros em Portugal e aberto, em Lisboa, um dos primeiros estúdios fotográficos. Embora ainda utilizasse o daguerreotipo foi, progressivamente, utilizando novas técnicas, tendo ido aperfeiçoar-se a Paris. Efectuou diversas exposições de fotografia e, algum tempo depois, tornou-se fotógrafo da Casa Real.
Após uma viagem pela Europa, juntamente com o Rei, ambos reforçaram o seu gosto pela cerâmica. Cifka passou a dedicar-se à faiança artística e influenciou o Rei, que também experimentou esta arte. Cifka cozeu a maior parte das suas peças na Companhia Fabril de Louça, às Janelas Verdes (depois Companhia Constância), mas não interferiu na produção da mesma.



Efectuava peças a seu gosto, sem utilidade prática, preocupando-se especialmente com a forma. Sem formação como ceramista, não primou pela originalidade, tendo sido influenciado por diversos estilos, que misturou, e copiado a majólica italiana renascentista, usando o "istoriato" e o "grotesco", este último bastante apreciado em Portugal.


                     O Palácio da Pena,  fotografado por Cifka
Utilizou a gravura na cerâmica, possuindo uma das maiores colecções oitocentistas de gravura do País. Grande apreciador de Rafael, utilizou-o como modelo em vários pratos.
Além de pratos produziu jarros, gomis, urnas e taças, com concepção e decoração renascentista, algumas vezes relevada, utilizando outras influências, como de Wedgwood, Palissy ou da porcelana chinesa. Cifka passou a utilizar muito formas de animais nas suas peças (perús, cisnes, galos, patos, peixes, tartarugas, entre outros) mas, de entre as diversas obras trabalhadas por este ceramista, são os violinos em faiança que mais têm suscitado a curiosidade dos coleccionadores.
São atribuídos a este artista dois tipos de azulejo de figura avulsa e relevados, existentes no Palácio Nacional da Pena, produtos de uma encomenda exclusiva.
D. Fernando II, seu amigo e protector, adquiriu a maior parte das suas obras e foi representado em muitas delas (tanto em fotografia como em peças de cerâmica).
Este artista também vendeu peças em exposições nacionais e internacionais.
Wenceslau Cifka foi, igualmente, desenhador, pintor, ceramista, litógrafo, esmaltador e professor em casas de famílias nobres, tendo coleccionado desenhos de diversos artistas (colecção conhecida por "Album Cifka").
D. Fernando mandou construir o Palácio da Pena em Sintra e Wenceslau Cifka fotografou-o em daguerreótipo. Pelo menos um desses daguerriótipos resistiu até hoje e foi adquirido recentemente pelo Estado Português - Centro Português de Fotografia para vir enriquecer o património da fotografia portuguesa.(foto acima)
Cifka era sensível às artes e muito cedo se tornou um apaixonado da fotografia. Estabeleceu-se como fotógrafo em 1848, em Lisboa num 1.º andar do n.º 31 da Rua Direita das Necessidades. Muda-se para a Rua Nova dos Mártires em 1854 e para a Calçada das Necessidades em 1862. Em 1865 já tinha novamente mudado de casa encontrando-se a trabalhar num 4.º andar do n.º 6 da Calçada da Pampulha. Participou na exposição de Londres, de 1856 e na Exposição Universal de Paris, em 1867. Foi com este austro-húngaro que aprenderam fotografia entre outros, os portugueses Carlos Relvas e os irmãos José Nunes da Silveira e Joaquim Goulart da Silveira, estes últimos oriundos dos Açores e que tinham aberto casa em Lisboa em 1861. Ofereceu em 1851 albuminas coladas sobre cartão ao Arsenal da Marinha. E sabe-se que ofereceu como prenda de casamento da infanta Maria Ana um álbum com vistas de Lisboa. A rainha D. Maria Pia também recebeu como presente de Cifka um álbum de fotografias com vistas de Lisboa, em 1862. Wenceslau Cifka foi pioneiro na edição de vistas estereoscópicas em Portugal.

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