O Omphalodes kuzinskyanae ou miosótis-das-praias é uma espécie botânica da família Boraginaceae, típica de arribas costeiras, endémica de Portugal cuja população está restrita às regiões costeiras do Parque Natural de Sintra-Cascais mais especificamente entre São Pedro do Estoril até às proximidades da Ericeira
O Instituto de Conservação da Natureza, depois de os núcleos desta espécie terem sido caracterizados e mapados, tem desenvolvido medidas de conservação, que passam pelo acesso condicionado com sinalização de caminhos pedestres, reforço das populações, recolha de sementes e plantação em viveiro.
A planta, devido ao seu estatuto de conservação, é alvo do Plano Nacional de Conservação de Flora em Perigo. O estatuto proposto para o Livro Vermelho das Plantas de Portugal, na altura em preparação era Espécie em Perigo Crítico de Extinção. Trata-se de uma espécie prioritária em termos de conservação de acordo com a legislação comunitária, estando incluída nos Anexos I e IV da Directiva Habitats (92/43/CEE) e no Anexo I da Convenção de Berna.
O Omphalodes kuzinskyanae é uma espécie inofensiva, de vida curta -um ano-, herbácea (raras vezes se alça acima de um palmo de altura). O seu nome científico, escrito num latim nada clássico, assustador à primeira audição, encerra alguma poesia. (Recordem-se que os nomes científicos são binomiais: a primeira palavra -nome genérico- designa o género, a segunda -epíteto específico- designa a espécie propriamente dita.) Omphalodes significa, em latim derivado do grego, umbigo. O botânico que primeiro descreveu o género para a ciência (Miller, durante o século XVIII), quis ver no formato invulgar do fruto a forma (sensual?) de um umbigo. Insólita ou não, o facto é que a designação foi aceite e perpetuada nas poucas dezenas de espécies do género Omphalodes que existem (das quais apenas três ocorrem em Portugal). Kuzinskyanae, palavra capaz de deslocar irremediavelmente o maxilar a qualquer disléxico, é uma derivação de Kuzinsky, apelido de um botânico polaco que visitou o nosso país em companhia de Willkomm, o naturalista alemão que descobriu esta espécie em 1889. Este último nomeou a espécie em homenagem ao seu amigo e colega científico.
O Omphalodes kuzinskyanae (que ainda não recebeu nome vernáculo português) é uma espécie rara, quer no número de indivíduos, quer na distribuição geográfica, como também nos habitats onde vive. É muito provável que venha a extinguir-se. Ocorre apenas nalgumas localidades litorais da Galiza e, em Portugal, somente numa faixa que se estende da Praia do Abano ao Cabo da Roca; ainda assim, observa-se em pouquíssimos aglomerados, cada qual com poucas dezenas de indivíduos. (Presume-se que em tempos passados, numa das épocas cíclicas de arrefecimento climático, haja ocupado toda a faixa litoral desde a estremadura portuguesa até ao noroeste ibérico.) Habita em cascalhos, rochedos e areias litorais onde haja uma acumulação (ainda que ínfima) de detritos ricos em nitratos. Esta última característica (a de preferir meios ricos em nitratos, ditos ruderalizados) é comum a toda a família das boragináceas em que se filia. Infelizmente para a causa ambientalista, o O. kuzinskyanae não é uma planta carismática, nem portentosa, nem sequer bizarra ao olhar. Há quem chegue a julgá-la feia. Mas quem conhece a sua condição, acha-a bonita porque a sabe rara: tem a beleza trágica de uma despedida. Quem a não conhece, nem é capaz de compreender que o belo é algo mais que as formas que iluminam a retina, não se há-de preocupar com a sua extinção.
Vários acordos internacionais para conservação da biodiversidade, assinados por Portugal, conferem-lhe o máximo estatuto de protecção: a Convenção de Berna, a Directiva Comunitária para a Conservação dos Habitats e da Diversidade Biológica, etc.
Quando forem ao Cabo da Roca, tentem identificá-la, e lembrem-se, é rara e em riscos de extinção.
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