O Palácio de Queluz é um monumento que tendo vindo a ser intervencionado carece ainda de recuperação em diversas áreas, artísticas e ornamentais. Se efectivamente algum trabalho foi realizado nos últimos anos, a existência de várias entidades conflituantes e actuando descoordenadamente (ou mesmo não actuando) com jurisdição sobre o Palácio, conduziu a que essa jóia da coroa se viesse a degradar com os anos e viesse a carecer de uma intervenção integrada que lhe devolvesse o esplendor, não obstante os danos visuais irreversíveis já causados, encaixado sem dignidade entre o IC-19 e a selva urbana de Queluz. Muito há a fazer naquela que é uma sala de visitas do Estado e uma jóia patrimonial. Esperemos que a nova afectação de gestão à Parques de Sintra-Monte da Lua altere o estado de coisas no sentido de dinamizar a recuperação e captar apoios nesse sentido, e se consiga globalmente a plena fruição do património edificado, estatuária e jardins. Saliente-se no sentido positivo a intervenção que desde 2003 tem vindo a ser feita na estatuária, através do World Monuments Fund, bem como no canal de azulejos, lagos e fontes dos jardins. O interesse suscitado pela colecção de escultura em chumbo, atribuída ao escultor inglês John Cheere (1709-1787), conduziu também ao envolvimento do WMF-Britain. A conservação e restauro dos grupos escultóricos mais relevantes - “Meleagro e Atalante”, “Vertumno e Pomona”, “Baco e Ariadne”, “Vénus e Adónis”, “Eneias e Anquises” e “Rapto de Proserpina” - foi realizada em Londres no atelier de Rupert Harris, do National Trust. As restantes esculturas foram intervencionadas no âmbito de workshops, que decorreram no Palácio Nacional de Queluz, dirigidos por Rupert Harris e envolveram estudantes e profissionais de conservação e restauro, tendo sido substituídas as armaduras de ferro por aço inoxidável e corrigida a postura das figuras. As distorções do chumbo foram remodeladas à mão e as juntas e fendas soldadas com chumbo, utilizando ferramentas manuais. Em algumas esculturas foram modelados alguns “atributos” que, tendo-se perdido ao longo do tempo, são no entanto essenciais para a compreensão da peça. Quanto às manchas, foi feita uma limpeza através da aplicação de cataplasmas de gel tixotrópico, lavado depois com água em baixa pressão. Depois de aplicada uma solução neutralizadora, de sódio e água, seguiu-se uma lavagem que garantiu a remoção de todos os vestígios químicos. Como acabamento final, foi aplicada caseína e óleo de patinação, decisão ponderada por diversos peritos e também acompanhada pelo IMC, através do seu Departamento de Conservação e Restauro.O Protocolo com o World Monuments Fund visou a implementação de um programa de conservação a longo prazo, partindo do tratamento da colonização biológica, prevendo a monitorização das peças, a praticar pelos técnicos do Palácio.
Um grupo de associados e amigos da Alagamares visitou recentemente o Palácio de Queluz, usual sala de visitas do Estado e local por onde passaram já inúmeros dignitários estrangeiros, e a precisar de intervenção ao nível da sua dignidade patrimonial.
Pavilhão de caça do marquês
de Castelo Rodrigo no século XVII, edificado por D.Pedro III, e
refúgio de D.Maria I depois de enlouquecer, aí nasceu e morreu o rei
D.Pedro IV, sendo o século XVIII o seu período áureo. Alvo do fogo por
várias vezes, a última das quais em 1934, teve intervenções mais
recentes em 2001, quando reabriu a Sala de Música e a Capela, e nos
últimos anos ao nível da estatuária dos jardins, tendo em 1999 as obras
sido incluídas no Plano Operacional da Cultura, altura em que se
beneficiaram a Cascata Grande e a rede de rega, e abastecimento de água
aos lagos. Com apoio do World Monuments Fund foi também realizado
vasta intervenção ao nível da estatuária e do Canal de Azulejos,
recuperação do coberto vegetal, das esculturas em chumbo de John
Cheere, tratamento contra a bio-colonização invasiva da pedra de musgos
e líquenes, das magnólias e sebes, bem como dos lagos e fontes da
autoria de Jean Baptiste Robillion.
-a necessidade de restauro de muitas das portas e janelas, em estado de degradação, sobretudo as viradas a sul;
-a
necessidade de restauro de algum mobiliário, que é já pouco, atentos
os esbulhos ocorridos durante a invasões francesas e com a partida da
Família Real para o Brasil, bem como por ocasião do fogo de 1934;
-o
tratamento de muitas das áreas espelhadas, denotando a antiguidade,
bem como as "falhas" ao nível dos dourados e madeiramentos podres;
-a necessidade de uma intervenção ao nível da fachada principal(a que dá directamente para os jardins);
-a particular degradação ao nível da Sala dos Embaixadores (tectos) e da sala do Toucador (espelhos e paredes);
-a
necessidade de alargar o perímetro de ajardinamento para a zona
adjacente à cascata, a precisar de limpeza, e onde as inúmeras
laranjeiras, carregadas, carecem de recolha dos frutos.
Ao
nível do tratamento museológico, uma palavra para realçar a falta de
informação sobre o Palácio (os folhetos disponíveis eram todos sobre os
palácios de Sintra), bem como a falta de um serviço de guia-áudio ou
mesmo de visitas guiadas em várias línguas. O uso sistemático dos
jardins para eventos culturais, à semelhança do ocorrido na década de
90, poderia ser uma forma de revitalizar o espaço, bem como dotá-lo de
uma programação regular reforçada.
Tendo
passado recentemente para a jurisdição da Parques de Sintra-Monte da
Lua, espera-se que o dinamismo revelado por essa empresa noutros locais
emblemáticos de Sintra permita devolver o esplendor a um espaço que é
sem dúvida um dos exemplares mais visíveis do barroco e do maneirismo em
Portugal.
REPORTAGEM NA SALOIA TV EM
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