segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Corrosão galopante nas fontes de Sintra

Um artigo do arquitecto Pedro Pignatelli



No decorrer de alguns meses tenho vindo a constatar que algumas das fontes da vila de Sintra estão a sofrer agressões no que respeita aos elementos de pedra. A corrosão não está a ser provocada pelo desgaste natural da passagem de água. Diferentes são as razões do seu desaparecimento. A pedra é considerada elemento duro, inerte e duradouro. Todavia, as suas características podem modificar-se ao longo do tempo (erosão), tornando-se necessário, em certos casos, a adopção de medidas de conservação para minimizar os efeitos nefastos. Neste caso, a necessidade de intervenção não tem relação directa com o passar do tempo, mas com a sua lavagem e “desinfecção”. A escolha do método e do produto de limpeza terá conduzido à corrosão galopante que pude constatar ao longo de algumas semanas. Como é do conhecimento geral, a pedra usada nas bacias e nos ornatos é de origem calcária e bastante sensível aos produtos de limpeza abrasivos. A sua provável aplicação terá conduzido à corrosão parcial e perda do lavrado de alguns elementos (fonte mourisca). O produto utilizado, julgo que terá a mesma composição do produto que usam para lavar e desinfectar/desinfestar os contentores de lixo orgânico (o cheiro que fica na água depositada nas bacias é idêntico). Na fonte da Volta do Duche, “fonte mourisca”, desapareceu o ligante “mata juntas” dos azulejos em toda a extensão que os liga à bacia, e toda a pedra apresenta estrias características de aspersão por jacto. A fonte da Sabuga também apresenta um quadro semelhante. Tanto nesta, como na outra fonte, a água corre pelas juntas das pedras da bacia, que apesar de ligada por “gates”de ferro, já apresentam um considerável intervalo. Não foi a erosão, mas a corrosão que provocou o desgaste. A fonte designada por fonte das Ratas em frente ao museu do brinquedo também tem sinais idênticos de corrosão. Outras fontes não vi, pois não corre água para desinfectar…

A escolha do método de limpeza e conservação a usar depende da natureza, extensão e desenvolvimento das substâncias a eliminar, das características da pedra e seu estado de degradação e, não menos relevante, do seu valor artístico.

A limpeza e manutenção executada e acompanhada por pessoal especializado permitem a salvaguarda de tão valorosíssimo património para as gerações vindouras. 

Face ao alerta exposto, seria oportuno efectuar averiguação urgente.

1 comentário:

  1. Meus amigos, falaram em "pessoal especializado"? Boa citação, meus caros, quando os gestores não manifestam essa vocação, como podem sentir a necesidade?

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