Um artigo do arquitecto Pedro Pignatelli
No decorrer de alguns meses tenho vindo a constatar que
algumas das fontes da vila de Sintra estão a sofrer agressões no que respeita
aos elementos de pedra. A corrosão não está a ser provocada pelo desgaste
natural da passagem de água. Diferentes são as razões do seu desaparecimento. A
pedra é considerada elemento duro, inerte e duradouro. Todavia, as suas
características podem modificar-se ao longo do tempo (erosão), tornando-se
necessário, em certos casos, a adopção de medidas de conservação para minimizar
os efeitos nefastos. Neste caso, a necessidade de intervenção não tem relação
directa com o passar do tempo, mas com a sua lavagem e “desinfecção”. A escolha
do método e do produto de limpeza terá conduzido à corrosão galopante que pude
constatar ao longo de algumas semanas. Como é do conhecimento geral, a pedra
usada nas bacias e nos ornatos é de origem calcária e bastante sensível aos
produtos de limpeza abrasivos. A sua provável aplicação terá conduzido à
corrosão parcial e perda do lavrado de alguns elementos (fonte mourisca). O
produto utilizado, julgo que terá a mesma composição do produto que usam para
lavar e desinfectar/desinfestar os contentores de lixo orgânico (o cheiro que
fica na água depositada nas bacias é idêntico). Na fonte da Volta do Duche,
“fonte mourisca”, desapareceu o ligante “mata juntas” dos azulejos em toda a
extensão que os liga à bacia, e toda a pedra apresenta estrias características
de aspersão por jacto. A fonte da Sabuga também apresenta um quadro semelhante.
Tanto nesta, como na outra fonte, a água corre pelas juntas das pedras da
bacia, que apesar de ligada por “gates”de ferro, já apresentam um considerável
intervalo. Não foi a erosão, mas a corrosão que provocou o desgaste. A fonte
designada por fonte das Ratas em frente ao museu do brinquedo também tem sinais
idênticos de corrosão. Outras fontes não vi, pois não corre água para
desinfectar…
A escolha do método de limpeza e conservação a usar depende
da natureza, extensão e desenvolvimento das substâncias a eliminar, das
características da pedra e seu estado de degradação e, não menos relevante, do
seu valor artístico.
A limpeza e manutenção executada e acompanhada por pessoal
especializado permitem a salvaguarda de tão valorosíssimo património para as
gerações vindouras.
Face ao alerta exposto, seria oportuno efectuar averiguação
urgente.
Meus amigos, falaram em "pessoal especializado"? Boa citação, meus caros, quando os gestores não manifestam essa vocação, como podem sentir a necesidade?
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