quarta-feira, 13 de março de 2013

Natália Correia, 20 anos depois da sua partida


Na madrugada de 16 de Março de 1993, passam agora 20 anos, morria subitamente, com um ataque cardíaco, em sua casa, depois de regressada do "seu" Botequim, a poetisa e escritora Natália Correia. A sua morte precoce deixou um vazio na cultura portuguesa muito difícil de preencher.
Natália Correia nasceu na Fajã de Baixo, São Miguel a 13 de Setembro de 1923 e sempre se considerou uma poeta, recusando-se a ser classificada como poetisa por entender que a poesia era assexuada. Deputada à Assembleia da República entre  1980 e 1991, também aí interveio ao nível da cultura e do património, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres. Autora da letra do Hino dos Açores, foi, juntamente com José Saramago, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues, entre outros, uma das fundadoras, em 1992, da Frente Nacional para a Defesa da Cultura.

A sua obra estende-se da poesia ao romance, teatro e ensaio, e foi uma figura central das tertúlias que reuniam em Lisboa nomes centrais da cultura e da literatura portuguesas nas décadas de 1950 e 1960. Ficou conhecida pela sua personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e polémica, que se reflecte na sua escrita.

Quando tinha apenas onze anos, o pai emigrou para o Brasil, fixando-se Natália com a mãe e a irmã em Lisboa, onde estudou no Liceu D. Filipa de Lencastre. Iniciou-se na literatura com a publicação de uma obra destinada ao público infanto-juvenil mas rapidamente se afirmou como poeta.

À época, apresentou na televisão na televisão o programa Mátria, onde advogou uma forma especial de feminismo, o matricismo, identificador da mulher como arquétipo da liberdade erótica e passional e fonte matricial da humanidade; mais tarde, à noção de Pátria e de Mátria acrescenta a de Frátria. Tomou igualmente parte activa na oposição ao Estado Novo, tendo participado no MUD (Movimento de Unidade Democrática, 1945), no apoio às candidaturas para a Presidência da República do general Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958) e na CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, 1969). Foi condenada a três anos de prisão, com pena suspensa, pela publicação da Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, considerada ofensiva dos costumes, (1966) e processada pela responsabilidade editorial das Novas Cartas Portuguesas de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta. Foi igualmente responsável pela coordenação da Editora Arcádia, uma das grandes editoras portuguesas do tempo.

A sua intervenção política pública levou-a ao parlamento, para onde foi eleita em 1980 nas listas do PPD (Partido Popular Democrático), passando depois a independente. Foi autora de polémicas intervenções parlamentares, das quais ficou célebre, num debate sobre o aborto, em 1982, a réplica satírica que fez a um deputado do CDS sobre a fertilidade do mesmo.

Com Isabel Meireles, Júlia Marenha e Helena Roseta, fundou em 1971 o bar Botequim, onde durante as décadas de 1970 e 1980 se reuniu grande parte da intelectualidade portuguesa. Foi amiga de António Sérgio (esteve associada ao Movimento da Filosofia Portuguesa), David Mourão-Ferreira ("a irmã que nunca tive"), José-Augusto França ("a mais linda mulher de Lisboa"), Luiz Pacheco ("esta hierofântide do século XX"), Almada Negreiros, Mário Cesariny ("era muito mais linda que a mais bela estátua feminina do Miguel Ângelo"), Ary dos Santos ("beleza sem costura"), Amália Rodrigues, Fernando Dacosta, entre muitos outros. Foi uma entusiasta e grande impulsionadora pelo aparecimento do espectáculo de café-concerto em Portugal, na figura do polémico travesti Guida Scarllaty, o actor Carlos Ferreira, na época um jovem arquitecto de quem era grande amiga. Na sua casa, foi anfitriã de escritores famosos como Henry Miller, Graham Greene ou Ionesco.

Em 1991 recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro Sonetos Românticos
Natália Correia casou quatro vezes. Após dois primeiros curtos casamentos, casou em Lisboa a 31 de Julho de 1953 com Alfredo Luís Machado (1904-1989), a sua grande paixão, bem mais velho do que ela e já viúvo, casamento este que durou até à morte deste, a 17 de Fevereiro de 1989. (São já notáveis as cartas de amor da jovem Natália para Alfredo Luís Machado.) Em 1990, tinha Natália 67 anos de idade, celebrou um casamento de conveniência com o seu colaborador e amigo Dórdio Guimarães. Abaixo, um poema de Natália:

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