E agora, S. Pedro? é um projecto de Solidariedade
activa e criativa em rede, direccionado para a comunidade de 3ª Idade na área da Junta de Freguesia de S. Pedro de Penaferrim, concebido e desenvolvido pelo Utopia
Teatro, Grupo
de intervenção criativa “Manta de Retalhos” (Unidade Pastoral de Sintra), Aqui
há bicho – grupo de teatro juvenil e Atelier
criarte – Mariis Capela e que a Alagamares procurará apoiar dentro das suas possibilidades.
O objectivo estratégico do
projecto passa por “reabilitar”, “dinamizar” e “divulgar” as memórias, saberes
e tradições dos anciãos da terra relacionando-as com o espaço específico que
habitam ou habitaram. A partir dos números e dados da Junta de freguesia, procurar-se-á o caminho de dar foco e rosto – em genuína homenagem – à memória
dos que há mais tempo residem e resistem em S. Pedro de Sintra. Assumindo este
projecto, a Junta de Freguesia assegura a mobilização e defesa intransigente
deste inestimável Património Imaterial que são os seus cidadãos e suas memórias
de S. Pedro de Penaferrim, Paisagem Cultural e Património da Humanidade por excelência.
O projecto geral articula-se em quatro
vertentes e etapas.
- Cerca
de 20 voluntários e animadores, organizados em sete equipas, entrarão em
contacto com o público-alvo tendo
como objectivo a adesão ao projecto e a recolha de testemunhos de um
micro-universo de 40 habitantes de S. Pedro com mais de 65 anos – ao longo
de dois meses.
- A
recolha de testemunhos servirá de ponto de partida e matéria-prima para a
construção de uma apresentação pública no campo das artes cénicas, de
preferência por ocasião dos festejos populares do Padroeiro.
- A
apresentação pública coincidirá com uma exposição de retratos fotográficos
de alguns dos entrevistados. A exposição, de preferência, deverá ocorrer
ao ar livre em diversos pontos-chave do centro histórico de S. Pedro,
escolhidos, preferencialmente, por sugestão do retratado.
- Construção
de um “diário de bordo” com toda a documentação do processo criativo do
projecto. Recolha escrita, gravada e contextualizada por individualidades
idóneas, tendo em vista o seu depósito no Arquivo Histórico de Sintra e
eventual edição por iniciativa camarária.
- Estas quatro vertentes e
etapas englobam uma série de objectivos específicos e estratégias em sucessivas
“homenagens” e acções concretas para a motivação/auto-estima do público-alvo, procurando minorar a solidão, reabilitar pontes de comunicação
transversais e intergeracionais e promover elos afectivos entre o indivíduo e o
espaço em redor, catalisador da sua identidade.
Primeira Etapa: “A desculpa é a fotografia”
“A desculpa é a fotografia”
poderá ser o mote da primeira etapa essencial que obedece a uma questão de
fundo: “Como articulam as pessoas as suas memórias e vivências com o espaço que
as rodeia?” Surge então a consequente questão prática: “Como obter o
consentimento para um testemunho gravado, retratado e homenageado?” Sob o
pretexto de um simples visionamento de um álbum de fotografias pretende-se
reavivar e estimular a ligação afectiva das memórias, associando determinados
marcos na vida de uma pessoa a espaços concretos que ainda hoje existem em S.
Pedro.
Assim, todas as narrativas
espontâneas que surgirem e que remetam para antigos saberes e tradições estarão
subordinadas às fotografias apresentadas e comentadas. Pensar o território para
melhor o habitar e defender é objectivo estratégico, aliando o património
material de Paisagem Cultural com o património imaterial da população que vive
há mais tempo na área de intervenção.
É, pois, essencial o quadro
de voluntários e animadores e toda a acção de formação em articulação com a
Junta de Freguesia e todas as outras instituições envolvidas.
O quadro de voluntários e animadores
será assegurado, em responsabilidades idênticas, por:
- Seis
elementos do grupo de teatro de Sintra “Aqui há bicho”, com idades
compreendidas entre os 17 e os 19 anos, alunos da área de Animação Sociocultural da Escola Secundária de Santa Maria.
- 6
elementos do grupo de intervenção criativa “Manta de Retalhos” da UPS, com
idades compreendidas entre os 45 e os 70 anos e com experiência nas acções
humanitárias da Igreja.
- 6
elementos da Utopia Teatro, que providenciarão toda a plataforma de
ligação entre os intervenientes.
- Haverá
ainda um coordenador e um assistente de produção.
Encontros, reuniões,
ensaios e acções de formação poderão decorrer no Auditório da UPS ou em
qualquer outro local sugerido pela Junta de Freguesia.
O quadro de voluntários e animadores
será organizado em grelha com as marcações e contactos das pessoas a
entrevistar.
Pretende-se a formação de
sete equipas com uma média de três “entrevistadores” por equipa, em sistema de
rotatividade, isto é, cada equipa e cada “entrevistador” terá uma média de 6 a 7
entrevistas a realizar no espaço de dois meses.
A “entrevista” não se
limitará a uma só visita. Cada pessoa contactada que mostre interesse em
qualquer tipo de colaboração com o projecto deverá ser visitada em três
distintas ocasiões com o objectivo de quebrar, de parte a parte, desconfianças
iniciais e não ser uma só uma intervenção-relâmpago. Surge aqui o mote desta
etapa: “A desculpa é a fotografia”.
Os entrevistadores levam
consigo, na primeira visita, apena o nome da pessoa que serviu de elo de
ligação, importante pormenor para reforçar a confiança, e uma vintena de
fotografias – com mais de duas décadas – de locais emblemáticos de S. Pedro.
À segunda visita propõe-se
que seja a pessoa entrevistada a divulgar, dos seus álbuns pessoais, algumas
fotografias que mostrem o retratado em algum cenário Sampedrino, em algum
momento simbólico da sua vida. À despedida é importante auscultar a pessoa no sentido
de deixar bem claro se há consentimento para a utilização de fragmentos da
conversa recolhida.
A terceira visita
funcionará com convite para um primeiro encontro público onde a parte criativa
do projecto procurará esclarecer os presentes sobre o modo como pretende
construir uma apresentação pública com fragmentos das suas memórias. A terceira
visita servirá também para a gravação do seu depoimento. À despedida faltará
combinar então a data de visita do fotógrafo e o passeio ao local escolhido
para a fotografia, se houver para isso o consentimento, o entusiasmo e a
possibilidade.
Finaliza-se assim este
processo de solidariedade activa.
2.2. Segunda Etapa: “A criatividade da
Memória em acção”
Inicia-se uma segunda etapa
que constitui a vertente criativa do projecto. As “memórias” serão o ponto de
partida e a matéria-prima para a construção de uma apresentação pública final
por ocasião dos festejos populares do Padroeiro, em homenagem aos
entrevistados. Conforme os testemunhos vão sendo partilhados pela equipa
criativa inicia-se o processo de ensaios.
Pretende-se uma intervenção
transversal e intergeracional no campo das artes cénicas, partindo de uma
estrutura teatral de “manta de retalhos”, acumulando sucessivos quadros
alusivos às vivências pessoais e colectivas das pessoas da terra e seguindo de
perto a metodologia empregada por Bual na sua estratégia de teatro-fórum,
segundo o seu modelo de representação teatral e intervenção cívica que é o
Teatro do Oprimido procurando conciliá-lo com a tradicional revista à saloia.
Conferir Anexo 1 para mais
informações.
2.3. Terceira Etapa: “Sair à rua para o
retrato de S. Pedro”
“Sair à rua para o retrato
de S. Pedro”: conseguir que os “entrevistados” saiam à rua para posar junto a
qualquer espaço público de S. Pedro escolhido pelos próprios será o grande
desafio colocado aos fotógrafos que voluntariamente se oferecem para captar
esse momento único. O convite será lançado a fotógrafos amadores e profissionais, sendo o momento integrado nas
demais “homenagens”.
Esta etapa culmina com a
exposição dos retratos, colocados em locais centrais de S. Pedro, o mais
próximo possível dos “cenários” escolhidos pelos retratados.
Para financiar a exposição
propõe-se a realização de uma campanha junto dos estabelecimentos comerciais da
área de intervenção, segundo o mote “Apadrinhe o seu Ancião – Contribua para a sua
Homenagem”. Cada estabelecimento poderá escolher o retratado a apadrinhar, constando
no retrato o seu patrocínio. O
patrocínio pode ter dois valores, em relação directa com a dimensão do retrato
a exibir:
- “Large”
– retrato de 100 x 150 cm: aprox. 40 euros.
- “Medium”
– retrato de 75 x 100 cm: aprox. 30 euros
O objectivo é reunir e
exibir uma colecção de 24 a 40 retratos, amostra simbólica da diversidade dos
habitantes de S. Pedro com mais de 65 anos.
Esta etapa do projecto
conta já com o entusiasmo de três fotógrafos: Paulo Martins, Mariis Capela e
Francisco Gomes.
2.3. Quarta Etapa: “Juntos fazemos
História”
O projecto termina com a
construção de um “diário de bordo” enquanto documento do processo criativo e
sua doação simbólica ao Arquivo Histórico e eventual edição por iniciativa
camarária.
A importância simbólica
deste projecto “E agora, S. Pedro?” não seria possível sem essa inspiração
primeira que foi a figura ilustre de Sintra, José Alfredo da Costa Azevedo,
incansável dinamizador da Memória e Tradição que os muitos volumes de “Velharias
de Sintra” testemunham. Será possível reunir, neste “diário de bordo”, notas
introdutórias e de contextualização de historiadores, escritores,
investigadores e amantes de Sintra como João Rodil, Eugénio Montoito, Luís
Martins e Filomena Oliveira.